Gálatas 2 — Interpretação Bíblica

Gálatas 2

2:1-2 Uma das grandes histórias da Bíblia é a transformação de Saulo, o fariseu, de perseguidor da igreja para o maior missionário que a história já testemunhou. Raramente Paulo relata essa história em suas cartas. Ele não precisa porque geralmente faz isso pessoalmente quando está plantando uma igreja. Mas nesta ocasião, ao defender seu chamado e o evangelho, ele reconta um pouco de sua história pessoal para ressaltar a completa metamorfose que ocorreu em sua vida. Em sua vida anterior, Paulo admite — com muita dor, sem dúvida — que tentou destruir esse movimento. Tomando emprestada a linguagem dos profetas, Paulo narra como Deus lhe revelou a verdade sobre Jesus. No momento certo, mesmo quando Paulo era um inimigo ativo, Deus revelou Seu Filho a Paulo e o chamou para ser o emissário do céu para as nações. Paulo imediatamente parou sua campanha contra a igreja, que estava apenas começando a emergir de suas raízes judaicas e se espalhar para as nações gentias.

2:6 os governantes desta era. Em algumas passagens, Paulo usa a palavra “governantes” para se referir a seres espirituais (Ef 6:12; Col 2:15); aqui parece ser uma referência aos governantes terrenos.

2:7 mistério. O plano de Deus foi mantido oculto, conhecido apenas por Ele, até que Ele escolheu revelá-lo (Ef 3:1-11). Isso contrasta com os ensinamentos dos gnósticos, um grupo de falsos mestres religiosos que se infiltrariam na igreja primitiva (1Jo 2:18-27). Eles alegaram que existia um corpo de conhecimento secreto que só estava disponível para aqueles iniciados em um círculo interno de professores espirituais.

2:3-11 Uma vez que o cristianismo surge do judaísmo, alguns pregadores viajantes de Jerusalém pensam que os crentes judeus devem permanecer fiéis às regras judaicas em relação à circuncisão, observância do sábado e comida kosher. Se eles seguirem rigorosamente as regras alimentares, então os crentes judeus não devem compartilhar uma refeição com gentios “impuros” de fora, como Pedro tem feito em Antioquia. Eles defendem que os gentios de fora precisam seguir os costumes e práticas judaicas para se tornarem membros plenos da família de Deus. Paulo – e o conselho de Jerusalém (Atos 15) – rejeitam fortemente isso. O apóstolo argumenta que é somente a fidelidade de Jesus e a presença do Espírito que servem como fundamento da nova aliança e como entrada no povo de Deus.

2:11-18 Então, por que toda essa história pessoal? Paulo pensa que é útil porque as pessoas que pregam o falso evangelho na Galácia afirmam estar operando sob a autoridade de alguns dos seguidores de Jesus de Jerusalém, a igreja mãe. Paulo não tem o pedigree deles e, segundo eles, não merece o posto que reivindica como emissário para as nações. Eles dizem que não apenas Paulo é deficiente, mas sua mensagem também é, porque não leva pessoas de fora a seguir a lei. Assim, Paulo vai de igual para igual com eles, defendendo não apenas seu chamado, mas também sua mensagem. As boas novas que ele prega vêm diretamente de Jesus ressuscitado e são confirmadas pelos líderes de Jerusalém.

2:13 explicando as realidades espirituais com palavras ensinadas pelo Espírito. Esta parte do texto é difícil de traduzir e interpretar. O termo grego traduzido por “explicar” também pode significar “combinar”. As duas referências às coisas espirituais podem significar explicar verdades espirituais a pessoas espirituais, ou então combinar verdades espirituais com palavras espirituais (2Tm 3:16; 2Pe 1:20-21).

Notas Adicionais:

2.1-10 Paulo continua defendendo o direito de ser considerado um verdadeiro apóstolo chamado por Jesus Cristo. Fala sobre o encontro que teve com os apóstolos em Jerusalém, especialmente com Tiago, Pedro e João. Estes o receberam como apóstolo em pé de igualdade com eles.

2.1 Catorze anos depois: Não fica claro se devemos contar a partir da estada de Paulo na Síria e Cilícia (Gl 1.21) ou a partir da conversão dele (Gl 1.15-16). voltei para Jerusalém: Não se sabe ao certo se essa visita é aquela relatada em At 11.29-30 ou se é aquela narrada em At 15.1-4. É mais provável que seja a última. Barnabé: At 4.36-37; 9.26-27; 11.22-30. Foi companheiro de trabalho de Paulo na igreja de Antioquia (At 11.22-30), durante a primeira viagem missionária (At 13.1—14.28) e na reunião em Jerusalém (At 15.1-35). Tito: Outro companheiro de trabalho de Paulo (ver 2Co 2.13, n.).

2.2 os líderes da igreja: Alguns dos apóstolos (vs. 6,9). um trabalho perdido: Paulo queria evitar que os apóstolos que estavam em Jerusalém cortassem relacionamento com ele e com as igrejas dos não-judeus (v. 9).

2.3 Tito... não foi obrigado a circuncidar-se: Isto é, para ser aceito como cristão. Os apóstolos em Jerusalém ficaram do lado de Paulo.

2.4 queriam circuncidá-lo: At 15.1,24. unidos com Cristo Jesus: Ver Intr. 2.3. nos tornar escravos: Da Lei de Moisés, levando os cristãos a perder a liberdade que têm em Cristo.

2.5 vocês: Não somente os cristãos da Galácia, mas também todos os outros cristãos não-judeus.

2.6 líderes: Ver v. 2, n. Deus não julga pela aparência: Dt 10.17; 1Sm 16.7; Lc 20.21. não me deram nenhuma idéia nova: Ou “não exigiram de mim nada de novo”.

2.7 Um só e o mesmo evangelho é anunciado aos judeus e aos não-judeus. Deus escolheu Paulo para anunciar o evangelho aos não-judeus (At 9.15; 22.21; Rm 1.13; 15.16; ver 2Co 1.1, n.; 10.13, n.).

2.9 Tiago: Ver Gl 1.19, n. Pedro: Ver Gl 1.18, n. João: O apóstolo, filho de Zebedeu (Mc 1.19-20). os líderes: Ao pé da letra, o texto diz “colunas”, figura para os líderes. A Igreja é vista como um edifício (ver v. 2, n.; Mt 16.18; Ef 2.20-22; 1Pe 2.4-5; Ap 3.12), a casa onde Deus mora.

2.10 lembrássemos dos pobres das igrejas deles: Fariam isso recolhendo ofertas para ajudar os cristãos necessitados da Judéia (At 11.29-30; Rm 15.25-26; 1Co 16.1-4; 2Co 8.1-4; 9.1-15, n.).

2.11-14 Paulo fala de um encontro com Pedro em Antioquia da Síria, ocasião em que ele teve de repreender Pedro. Acontece que Pedro não estava sendo coerente. Durante algum tempo ele tinha tomado refeições com os irmãos não-judeus, deixando de lado as leis e os costumes dos judeus. Mais tarde, porém, pressionado por “alguns homens mandados por Tiago” (v. 12), Pedro se afastou dos irmãos não-judeus. Segundo Paulo, isto era o mesmo que dizer que esses irmãos não-judeus eram cristãos de segunda categoria.

2.11 Pedro: Ver Gl 1.18, n. Antioquia da Síria: Um dos principais centros da Igreja cristã naquela época (At 11.19-30; 13.1-3; 14.26-28).

2.12 mandados por Tiago: Da igreja de Jerusalém para Antioquia (ver Gl 1.19, n.). tomava refeições com os irmãos não-judeus: Pedro era judeu, e tomar refeições com não-judeus era contra as leis e os costumes dos judeus (At 10.1-29; 11.1-3). Mais tarde, ao deixar de tomar refeições com os não-judeus, Pedro estava negando a eles os direitos que tinham como membros da comunidade cristã.

2.14 vivendo... como não-judeu: Ao tomar refeições com os não-judeus (v. 12), Pedro, um judeu, estava vivendo como um não-judeu. como é que você quer obrigar os não-judeus a viverem como judeus? Ao deixar de tomar as refeições com os irmãos não-judeus (v. 12), Pedro e os outros com ele (v. 13) estavam negando aos cristãos não-judeus o direito de serem membros da comunidade cristã sem a necessidade de observar as leis e os costumes dos judeus. O exemplo de Pedro e dos outros estava “obrigando” os não-judeus da igreja de Antioquia a também viverem como judeus, pois dizia que as leis dos judeus ainda estavam em vigor (ver v. 12, n.). Paulo deixa claro que isso não estava de acordo com a verdade do evangelho. Pedro: Ver Gl 1.18, n.

2.15-21 Aqui, Paulo começa a tratar da importante questão teológica de como a pessoa é salva. Paulo deixa claro que a salvação vem somente da graça de Deus por meio da fé que a pessoa tem em Cristo Jesus. Não há nada que a pessoa possa fazer; Deus, por meio de Cristo, já fez tudo para a nossa salvação. E Paulo conclui que, se a pessoa fosse salva por obedecer à lei, então Cristo teria morrido à toa.

2.15 nós: Este “nós” inclui Paulo, Pedro e os demais cristãos que eram de origem judaica.

2.16 aceitos por Deus: Ver Intr. 2.1. nós também: Os cristãos de origem judaica. aceitos por Deus pela nossa fé em Cristo: Rm 3.20-28. ninguém é aceito por Deus por fazer o que a lei manda: Ver Intr. 2.4; Rm 3.20; Gl 3.11; 5.4, n.; Ef 2.9, n.

2.17 unidos com Cristo: Ver Intr. 2.3; Jo 17.21, n. fica claro que somos “pecadores”: Os judeus que creem em Cristo rejeitam a lei como o meio de serem aceitos por Deus e, assim, admitem que são pecadores, como os não-judeus.

2.18 depois de ter destruído a lei: Isto é, depois de ter negado que a pessoa é aceita por Deus por fazer o que a lei manda. aí, sim, fica claro que eu havia quebrado a lei: Paulo quer dizer que não está errado deixar o caminho da lei por causa de Cristo; o que está errado e “quebra a lei” é, depois de que se chegou a crer em Cristo, começar de novo a construir a lei como meio de ser aceito por Deus.

2.19 morto pela própria lei: A lei faz exigências impossíveis de serem cumpridas e, por isso, traz a morte (Rm 7.9-11). Eu fui morto com Cristo na cruz: Gl 5.24; 6.14; Rm 6.5-11; ver 2Co 4.10, n.

2.20 Cristo... vive em mim: Rm 8.9-11; 2Co 13.5; Ef 3.17; Cl 1.27; Jo 17.23. esta vida que eu vivo agora, eu a vivo pela fé: Gl 5.5; 2Co 5.7; Rm 8.23-25. se deu a si mesmo por mim: Ver Gl 1.4, n.