Quem Escreveu o Livro de Ezequiel?

Quem Escreveu o Livro de Ezequiel?

Quem Escreveu o Livro de Ezequiel?
Cf. Enciclopédia Bíblica Online

O livro de Ezequiel contém a relação, redigida na primeira pessoa gramatical, da pregação profética de Ezequiel, “as palavras de Javé” (assim ele mesmo diz em 1.3) que ouviu, e as “visões de Deus” (1,1) que viu. Apenas dois versículos (1,3 e 24,24) estão na terceira pessoa gramatical. Os dois outros profetas maiores, Isaías e Jeremias, poucas vezes falam de si mesmos; quanto a Jeremias, é a um biógrafo que devemos notícias bem amplas sobre sua vida, mas Ezequiel nos comunica pessoalmente, do início até o fim do seu livro, quais foram as suas experiências proféticas; neste ponto Ezequiel se parece mais com a primeira parte da profecia de Zacarias (Zac 1-8). Sobre o que lhe sucedeu fora das suas experiências proféticas pouca coisa conta; pelos dois versículos na terceira pessoa gramatical sabemos o principal. Sobre o conteúdo das “palavras e visões”, isto é: sobre a mensagem profética de Ezequiel.

Até o início do século XX, praticamente todos estavam convencidos de que Ezequiel redigido pelo próprio profeta, conforme um determinado plano lógico e que, por conseguinte, o livro formava uma unidade, sendo todo ele autêntico. Esta convicção foi abalada pelos estudos de crítica literária de Kraetzschmar e, sobretudo, de Herrmann. A opinião de que o livro, nas partes essenciais, é do próprio profeta mas foi revisado tanto por ele mesmo como também por outros autores posteriores, ia ganhando terreno. Mais longe foram Holscher e Irwin, distinguindo entre a obra do próprio profeta, que teria sido um poeta e apenas o autor das partes poéticas do livro, e um redator posterior, a quem deveríamos os trechos em prosa. Conforme Holscher apenas 170 dos 1273 versículos do livro seriam de Ezequiel. Aqui, porém, dá-se um fato interessante: Holscher considera como não autênticas 36 das 51 perícopes atribuídas por Irwin a Ezequiel; isso basta para que sejam condenados os métodos dos dois críticos.

O próprio Irwin julgava que a sua opinião se aproximava da tradição judaica, que nunca atribuiu o livro ao profeta Ezequiel, mas aos "varões da grande sinagoga”, entidade vaga. Exegetas mais recentes como Cooke, Howie, Põhrer, Rowley e Zimmerli estão voltando à posição de Herrmann. De outro lado, Burrows e Van den Born, estudando as relações literárias entre Ez e os demais livros bíblicos, julgaram poder concluir que o livro de Ez forma de fato uma unidade, mas deve-se a autores bíblicos que, conforme a opinião mais comum, escreveram só depois do cativeiro. Surge, portanto, o problema se Ezequiel, que se apresenta como uma autobiografia escrita durante o cativeiro, não seria um escrito pseudopigráfico, como já propôs Torrey, baseando-se em outros argumentos. Do texto hebr. de Ez encontraram-se fragmentos em Qumran. Edição: W. H. Brownley, The Scroll of Ez from the llth Qumran Cave (RQum 4,1963,11-28).