Comentário de Romanos 5:3-5
Comentário de Romanos 5:3-5
Apesar da
frase: “O justo viverá”, vale também a verdade: “Muitas são as aflições do
justo”5
(Sl 34.19). E não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias
tribulações. O justo sempre será como um estilhaço na carne para um mundo
de injustiças (Rm 1.18). É inconcebível que ele permaneça livre de
contrariedades, ameaças e medo. “Filho, se te dedicares a servir ao Senhor,
prepara-te para a prova” (Eclesiástico 2.1 [bj]).
Pressão de todos os lados tenta esmagar novamente sua fé. As “tribulações”
devem ser entendidas aqui como uma síntese. Elas vêm de fora como de dentro,
física, espiritual e intelectualmente, do exterior como do interior da igrejad. Tanto mais admirável é que essa plêiade de males
não apenas é incapaz de obscurecer o gloriar-se e a esperança daquele que crê,
mas que até pode intensificá-los. Pois não se gloria, apesar de sofrer,
mas precisamente porque sofre: sabendo que a tribulação produz
perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança.
Conjugadas com a fé (v. 1,2), as tribulações produzem uma corrente de reações
positivas. Assim como é possível usar uma escada rolante descendente para subir
por ela correndo, assim é possível superar em direção oposta aquilo que deprime
(Rm 8.28). Subitamente descobrimos o sofrimento para Cristo como sendo um
sofrimento com Cristo, como um presente da mais íntima comunhão com elee e como marca registrada da autenticidade de nosso
seguimento. Isto transmite uma firmeza antes desconhecida. Provações superadas,
porém, resultam em experiência, a qual por sua vez ativa a esperança pela
glória de Deusf. Apoiando-se em palavras de salmos como Sl 22.5; 25.3,20, o texto
continua: Ora, a esperança não confunde. O versículo seguinte, porém,
mostra que Paulo não trabalha nem um pouco com lemas de persistência obstinada.
De onde
esses atribulados retiram sempre de novo seu vigor? Porque o amor de Deus é
derramado em nosso coração. Se por um lado precisam conviver, como todos os
demais, com perguntas não respondidas, por outro lado persistem no gloriar-se,
pois encontram-se simultaneamente sob a impressão elementar de serem amados por
Deus. Apesar de compreender sempre, eles sabem o que os espera junto de Deusg. Uma “iluminação do conhecimento da glória de
Deus, na face de Cristo” (2Co 4.6) apoderou-se de seu coração antes obscurecido
(Rm 1.21): pelo Espírito Santo. Esse Espírito é o que preenche o próprio
Deus e que também o anima em relação a nós. Quando ele nos foi outorgado,
Deus partilha conosco sua posse mais íntima, seu amor. Esse amor, ademais, foi
derramado, ou seja, foi dado ilimitadamente6. Aos que o invocam, Deus não estende apenas o dedo
mindinho, mas a mão toda. Ele não os aceita para um “cursinho informativo”,
porém para uma aliança perpétua (2Co 1.22).
bj Bíblia de Jerusalém, 1987.
d Rm
8.35-39; 1Co 4.9-13; 2Co 4.8-10
g 1Co
1.9; 15.42-44; 15.57,58; Fp 1.6; 1Ts 1.10
6 Derramar
não é gotejar. Consta já em Jl 2.28, cf. At 2.33, o termo “derramar sobre”, significando a
concessão de plenitude irrestrita e não parcimoniosa. Depois também retorna com
muita clareza em Tt 3.6: “em rica medida”.