As Passagens Admoestadoras na Carta aos Hebreus

ADMOESTADORAS, PASSAGENS, CARTA, HEBREUS, ESTUDO BIBLICOS
As Passagens Admoestadoras na Carta aos Hebreus. Observe as seguintes passagens Hb 2.1-4; Hb 3.7-4.1; Hb 6.4-8; Hb 10.26-31,38-39; Hb 12.25-29. Na qualidade de judeus, aqueles cristãos hebreus estavam acostumados à idéia de uma sucessão de profetas e de uma continua repetição de sacrifícios pelo pecado. Precisavam tornar-se cônscios do caráter final e definitivo da revelação de Deus e da reconciliação a Deus outorgada aos homens através de Cristo. Visto que o Filho encarnado é a última palavra aos homens, e porque aos homens é oferecida em Cristo uma maravilhosa salvação, mediante a graça, aqueles que não Lhe dão ouvidos não podem esperar escapar do vindouro julgamento de Deus. Nenhuma palavra adicional de intervenção salvadora pode ser esperada da parte de Deus. Além disso, visto que o sacrifício de Cristo de Si mesmo foi uma realização decisiva e definitiva, não há mais oferta pelo pecado (Hb 10.18) quer feita por Cristo, no céu, quer feita pelos homens, sobre a terra. Nem também pode haver repetição do sacrifício único de Cristo (Hb 9.25-28), nem Deus jamais introduzirá outro sacrifício qualquer (Hb 10.26). Esse sacrifício único pelo pecado, levado a efeito de uma vez para sempre, é todo-suficiente para sempre, para todo o povo de Deus (Hb 10.10-14).

O desfrutamento dos benefícios do sacrifício de Cristo pelos homens é, semelhantemente, “de uma vez para sempre” (Hb 6.4); é decisivo, final e eterno. Por conseguinte (seguindo certa interpretação sobre essa passagem) qualquer indivíduo que tenha sido conscientemente confrontado com essa oferta da graça, e compartilhou pessoalmente das provas de sua origem, para em seguida rejeitar deliberadamente o Evangelho de Jesus como o Cristo (naturalmente sem ter verdadeiramente crido e sido regenerado) não pode ser semelhantemente levado, segunda vez, à oportunidade de arrependimento e fé. Ou, alternativamente (seguindo outra interpretação), aqueles que têm experimentado todas as bênçãos características da graça salvadora de Deus, por meio do sacrifício expiador de Cristo e da operação do Espírito em seus corações, e então se afastam de tudo, tentando viver como se tais coisas não fossem reais nem jamais tivesse acontecido, não podem ser levados de volta, segunda vez, à reação cristã inicial e decisiva de arrependimento e fé. O significado de Hb 6.6 pode ser que a mera sugestão que Cristo virtualmente necessita ser novamente crucificado, para trazer de volta tal apóstata ou desviado até o lugar do arrependimento decisivo e da revivificação do Espírito, é sujeitar a Cristo e à eficácia de Seu sacrifício único a uma ignomínia pública. O processo inteiro é inconcebível. Tal renovação de iluminação e arrependimento, portanto, é absolutamente impossível, tal como quando muitos israelitas se afastaram de Deus, devido à incredulidade, foi impossível levá-los desde o deserto até segunda experiência da páscoa e da travessia do mar Vermelho, a fim de despertar ou renovar sua fé. Para tais apóstatas ou incrédulos não havia, e continua não havendo, outra expectação além da do julgamento.

A espécie de fracasso que está aqui em jogo (para seguir determinada interpretação) é nada menos que um abandono consciente, deliberado e persistente do caminho cristão da salvação, um abandono que envolve nada menos que a apostasia do Deus vivo, rejeição da Palavra e testemunho confirmado de Deus-Pai Filho e Espírito Santo-tratando o Filho de Deus como os judeus O trataram em Jerusalém, como Alguém que deveria ser renegado e crucificado, assim como que sujeitando-o publicamente à maldição do céu, negando a significação de aliança entre Deus e Seu sangue derramado, e insultando ao Espírito que, graciosamente, pleiteia junto aos homens para que reconheçam a Jesus como Senhor. Tais ações certamente são aquelas que nosso Senhor chamou de blasfêmia contra o Espírito Santo, que é um pecado eterno e jamais tem perdão (Mc 3.28-29). Não obstante, era justamente a um pecado desse caráter que aqueles cristãos hebreus estavam expostos, já que estavam sendo tentados a retornar para onde estavam anteriormente, no Judaísmo (embora fazer isso fosse realmente impossível), quando teriam de repudiar publicamente a Jesus como Messias e Filho de Deus.

Cf. Classificação das Cartas Paulinas
Cf. O Fim da Lei na Teologia Paulina
Cf. Regeneração na Teologia Paulina
Cf. Significado do Batismo com Fogo

Entretanto, é possível (seguindo-se uma interpretação alternativa) que o escritor sagrado estivesse preocupado em deixar claro, a seus leitores inquestionavelmente crentes, que sua presente tendência de se tornarem preguiçosos, acomodando-se a meio caminho da imaginada possessão do que sua fé em Cristo já lhes tinha proporcionado, era uma ilusão fatal. O motivo é que, para aqueles que assim deram início ao caminho do discipulado cristão, as únicas possíveis alternativas são: prosseguir até à plena possessão da herança da fé, ou recuar desse movimento para a frente de Deus em suas vidas e assim cair sob Seu inevitável julgamento, à semelhança dos israelitas, que se tornaram objetos da indignação de Deus e foram prostrados no deserto, visto que não se tinham preparado, mediante a fé em Deus, para prosseguir até à Terra Prometida. Nesse caso, a espécie de fracasso aqui em foco, é o fracasso daqueles que, tendo sido levados pela graça a uma relação de aliança com Deus, falham completamente em considerar com a devida seriedade seus admiráveis privilégios e grandíssimas obrigações. Se aqueles que já tinham sido redimidos do Egito, que deixaram de obedecer à palavra de Deus sob o primeiro pacto sinaítico, foram removidos em julgamento de entre a companhia do povo de Deus, não é justo que aqueles que deixam de responder favoravelmente às exigências do novo pacto em Cristo, devem com justiça esperar um tratamento ainda mais severo e drástico? Pois enquanto que, na vida cristã, a disciplina de Deus, ainda que dolorosa, é proveitosa e deve ser acatada como prova que Ele nos trata como a filhos Seus, tendo em vista o nosso progresso na santidade, pode alguma coisa qualquer ser mais terrível, na vida de quem, mediante a graça de Deus já é filho de Deus, do que, em relação à sua conduta terrena subseqüente, Deus tenha de tratar com ele mediante um julgamento incandescente e até mesmo fatal?

As questões teológicas aqui envolvidas são se aqueles que assim estão na possibilidade de apostatar ou cair sob o julgamento de Deus foram alguma vez regenerados, ou Se qualquer homem, uma vez salvo, pode vir finalmente a perder-se. Em resposta a ambas as perguntas alguns dizem enfaticamente: “Não”. Fazem comparação com os tipos mencionados em Mt 7.22-23; Mt 12.22-32. Argúem que a própria apostasia de tais indivíduos é prova que nunca foram regenerados. Mas outros afirmam que aqueles que são descritos em Hb 6.4-5 certamente devem ser regenerados; pois nenhuma descrição mais inequívoca sobre alguém regenerado poderia ser apresentada. Alguns, então, argúem que o julgamento conseqüente contra sua completa degeneração e esterilidade espiritual não envolve necessariamente a perda da eterna salvação. Estão, por exemplo, tão somente “perto da maldição” (Hb 6.8). Cfr. 1Co 3.15; 1Co 5.5. Outros, ainda, supõem que essa sugestão que um indivíduo regenerado assim pode tornar-se apóstata e vir a finalmente perder-se, é realmente apenas hipotética e teórica. Até mesmo segundo o ponto de vista humano, isso é muito menos provável que o suicídio físico, e por isso deve ser considerado apenas como uma possibilidade remota; pois que, em realidade, olhando-se a questão do ponto de vista divino, mediante a graça tal possibilidade nunca pode tornar-se realidade. Ver Jo 10.28.

Todavia, os crentes cristãos e todos que compartilham do conhecimento da verdade, fariam bem em tratar com a devida seriedade essas solenes advertências. Não nos esqueçamos do que escreveu João Bunyan: “Então vi que há um caminho para o inferno, partindo dos próprios portões do céu, bem como partindo da Cidade da Destruição”. Relembremo-nos igualmente, que o apóstolo Paulo temia que, de alguma maneira, após haver ele pregado a outros, e sido usado para conduzir outros a Cristo, ele mesmo viesse a ser “desqualificado” (1Co 9.27; o grego é, literalmente, “desaprovado”, mas esta versão traduz admiravelmente bem o termo). Cfr. 2Pe 2.20-21.