O Prólogo do Evangelho de João

O Prólogo do Evangelho de João


O prólogo de João é altamente teológico. Alguns eruditos pensam que originalmente se tratava de um hino, o qual passou a ser incorporado no quarto evangelho com inserções e revisões editoriais. A primeira frase, “No princípio...”, faz nos lembrar de Gênesis 1:1. A aplicação do termo “Verbo”, ou “palavra” (no grego: Logos) a Jesus, indica que Ele é o porta voz de Deus, o Seu modo de comunicação, em contraste com o título divino dos helenistas, “Silêncio”. A expressão “a palavra do Senhor”, empregada no Antigo Testamento, o uso do termo "palavra" para indicar o evangelho, no Novo Testamento, a personificação da sabedoria, no Antigo Testamento e na literatura judaica do período intertestamentário, a utilização do vocábulo “palavra” nos Targuns, como substitutivo para Deus, e o uso técnico de logos, para indicar a Razão que governa o universo, por parte dos filósofos, como os estóicos e o judeu alexandrino Filo alguns ou todos esses empregos provêem o pano de fundo do uso que João fez do termo Logos.(Ver seleções representativas da literatura extrabiblica, em C. K. Barret, The New Testament Backeround: Selected Documents, Nova Iorque: Harper & Row, 1956, págs. 54, 55, 61, 62, 67, 68, 183, 185, 216, 221.) Mas somente João identifica o Logos, de maneira absoluta, com Deus, e em seguida ousa identificar o Logos com um ser humano que viveu na história, Jesus.

O Verbo (ou Palavra) conserva se em comunhão com Deus Pai (“com Deus”), e, por isso mesmo, procede Dele. Não obstante, é igual a Deus (“e o Verbo era Deus”). Ele é o Criador, e, ao vir a este mundo, tornou se a fonte de onde manam vida espiritual e iluminação para todos os homens. Aqueles que O recebem, por terem confiado Nele contrastando com a maior parte de Seu próprio povo, os judeus tornam se filho de Deus, não mediante a capacidade humana da procriação (“do sangue ... da vontade da carne ... da vontade do homem”, versículo treze) isto é, não em virtude da descendência física, judaica ou não mas através de um ato do próprio Deus.

O fato que a Palavra tornou se um ser humano (“E o Verbo se fez carne”) e veio habitar (literalmente: “armou tenda”) entre outros seres humanos é a doutrina da encarnação (versículo 14). Sua glória não consiste de brilho exterior, mas das excelências morais do caráter de Deus (“graça e verdade”), que Ele revelou plenamente à humanidade como somente um filho sem igual (“unigênito”) poderia ter feito. João Batista (versículos 6 8,15) testificou sobre a superioridade de Jesus (“O que vem depois de mim, tem contudo a primazia”, isto é, está revestido de hierarquia superior), devido à Sua preexistência na qualidade de Logos (“já existia antes de mim”, isto é, no tempo e na eternidade). Na encarnação do Logos, pois, o Deus invisível tornou se visível (versículo 18).