O Perigo da Incredulidade — Hebreus 3:7-19


O Perigo da Incredulidade — Hebreus 3:7-19
O Perigo da Incredulidade 
(Leia Hebreus 3:7-19). 

Esta advertência é reforçada pelo solene exemplo do fracasso dos israelitas, no deserto. A comparação entre Moisés e Jesus, dada nos vers. 1-6, é seguida por uma comparação entre a promessa e o povo sob a antiga aliança e sob a nova aliança. Tanto Moisés como Cristo mostraram-se fiéis até o fim (v. 2). Porém, a grande maioria dos seguidores de Moisés foi infiel. Todos compartilharam dos grandes livramentos da Páscoa e do mar Vermelho; porém, mais tarde, endureceram seus corações contra Deus e pereceram no deserto. Cfr. 1Co 10.1-5. Isso provia uma eloqüente advertência àqueles judeus do primeiro século D. C. que, em Jesus, tinham visto o Cordeiro Pascal sacrificado e o poder de Deus manifestado em Sua ressurreição dentre os mortos. Certamente que isso não era alguma novidade para a maioria da nação não crer no fato. Igualmente, muitos dos israelitas sob a liderança de Moisés contemplaram as obras de Deus pelo espaço de quarenta anos (v. 10), mas, não obstante isso, endureceram os seus corações. Assim é que, tendo chegado às próprias portas da Terra Prometida, falharam e não entraram. Semelhantemente, quando esta epístola foi escrita, cerca de quarenta anos possivelmente se tinham passado, desde a primeira proclamação da salvação efetuada pelo próprio Senhor. A origem divina do Evangelho tinha sido confirmada por meio de sinais exibidos àqueles hebreus (Hb 2.3-4). Que eles temessem, portanto, a fim de que também não viessem a escandalizar-se do caminho de Deus e ficar aquém da consumação prometida (Hb 4.1).

Essa exortação é introduzida em palavras citadas de Sl 95.7-11, que são reputadas como proferidas pelo Espírito Santo, e dirigidas para Hoje (v. 7), isto é, àqueles que agora são confrontados, nesta nova era de redenção, com a nova revelação dada pela voz de Deus, proferida em Cristo. Note-se a autoria divina implicada e o propósito cristão das Escrituras do Antigo Testamento. Tudo depende do modo como os homens ouvem a mensagem do Evangelho. O Evangelho não consiste de meras palavras, mas é o próprio Deus vivo que se apresenta aos homens para que eles decidam o que fazer com Ele. Cfr. Hb 4.12-13. Recusar-se a dar-Lhe ouvidos é a mesma coisa que rejeitá-Lo (v. 12).

Cf. Cristologia: Estudo sobre Jesus Cristo
Cf. Teologia Bíblica e o Cânon
Cf. Literatura no Judaísmo
Cf. Tradição Apocalíptica

Provocação e tentação (v. 8) são traduções dos nomes locativos hebraicos Meribá e Massá. Ver Nm 20.1-13; Êx 17.1-7. A instância da incredulidade de Israel, em Massá, ocorreu no primeiro ano de perambulações pelo deserto, e a instância em Meribá teve lugar no quadragésimo ano dessas perambulações. Isso evidencia que seu endurecimento de coração havia persistido desde o início até o fim daqueles quarenta anos. Me tentaram (v. 9). Parece que “tentar” a Deus significa tentar verificar quão longe alguém pode prosseguir na desobediência contra Ele. Embora Deus, em Seu desprazer, os tivesse repreendido (v. 10), exibindo perante seus olhos os próprios erros, continuaram mostrando total falta de entendimento do propósito do procedimento de Deus para com eles. Recusaram arrepender-se. Assim sendo, Deus solenemente declarou (v. 11) que era impossível, para pessoas em tal condição desfrutar da herança prometida.

Nos vers. 12-15 as palavras baseadas no Sl 95 são reputadas como indicação que “Hoje’, enquanto ainda há oportunidade de dar-se ouvidos à voz de Deus no Evangelho (cfr. 2Co 6.2), há a possibilidade do indivíduo cair no mesmo perigo em que caíram os israelitas. Pois a Palavra de Deus produz uma reação inevitável; ou os homens respondem obedientemente, ou rejeitam-na teimosamente. As causas do fracasso, que deveriam ser evitadas, são, por um lado, incredulidade e infidelidade (v. 12), e, por outro lado o próprio engano do pecado, mediante o qual os corações dos homens se endurecem contra Deus (v. 13). A conseqüência prática de tal fracasso não é menor que a do “afastamento” (lit., “apostasia”) do Deus vivo (v. 12). A proteção contra isso é encontrada na exortação diária e mútua (v. 13). Os crentes devem dirigir uns aos outros palavras de encorajamento, cada dia. Os muitos são responsáveis por cada qual; cada membro da comunidade cristã deveria cuidar para que nenhum indivíduo dentre seu número se torne infetado (ver 12). Pois a plena participação nas bênçãos messiânicas é concedida somente àqueles que são firmes em sua confiança (v. 14), desde o princípio até o fim. A fé é a “confiança” ou “segurança” das coisas esperadas (Hb 11.1). Ela deve ser mantida, com toda a intensidade de sua primeira manifestação (cfr. Hb 3.6), e em face de demora, sofrimento e desapontamento temporário (cfr. Hb 10.35-36). No vers. 14 note-se a antítese entre o princípio e o fim; cfr. Hb 12.2, “o Autor e Consumador da fé, Jesus”.

O solene significado do exemplo dos israelitas é reforçado mais ainda por uma série de perguntas. Aqueles que provocaram a Deus durante quarenta anos, no deserto, não foram outros senão aqueles que participaram do livramento da escravidão egípcia, um surpreendente anti-clímax. O motivo pelo qual foram lançados em juízo foi o pecado. A razão pela qual deixaram de entrar na Terra Prometida foi desobediência enraizada na incredulidade. A falta de fé, pois, ou seja, o perverso coração de incredulidade (v. 12), é o óbvio e fatal perigo contra o qual nos devemos precaver.