Exemplos de Fé no Passado — Hebreus 11:1-40

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Em Hb 10.38-39 o escritor enunciou o princípio da fé como modo de vida agradável a Deus, e expressou a resolução de persistir na fé até à plena possessão de suas recompensas. Agora ele reforça isso através de muitas ilustrações bíblicas, mostrando que, desde o princípio e pela história adentro, a fé sempre tem sido, à vista de Deus, a grande condição indispensável, dotada de digna realização e de constância esperançosa. A fé, declara ele, trata essencialmente de duas espécies de coisas, coisas futuras (ou que se esperam) e coisas que se não vêem (1). Ela está igualmente convicta sobre o futuro cumprimento da primeira espécie de coisas e sobre a realidade presente da segunda espécie de coisas. Sem tal atitude ativa de consciência e certeza no referente a Deus, é impossível agradar a Deus (6), e, de fato, é impossível ter quaisquer relações pessoais com Ele (isto é, se aproximarem de Deus). Pois o próprio ser de Deus é a suprema realidade invisível com a qual a fé tem de tratar; e Seu fiel cumprimento de Suas promessas (cfr. vers. 11) e Sua recompensa certa para aqueles que o buscam (6) são os grandes bens futuros pelos quais espera a fé. O primeiro requer certeza (gr. elenchos), a fé da atestação verificável e da convicção estabelecida; o outro requer convicção (gr. hypostasis, cujo possível sentido é “documento”), a fé de confiança firme e de firme expectativa (1). Foi por terem manifestado fé dessa espécie (2) que aqueles que viveram no passado viram aprovados por Deus suas vidas e sofrimentos, como dignos de serem registrados nas Escrituras. Foi por causa de sua fé que se reuniram à companhia das testemunhas de Deus (Hb 12.1) ou “mártires” (grego). Pois Deus testificou a respeito deles (2,4,5), e assim continuam testificando a respeito dEle. A atividade de tal fé como a deles proveu algo para ser registrado, algo dotado de uma mensagem permanente para os homens; e continua a prover encorajamento e exemplos para os outros. Tal testemunho, portanto, sobrevive ao indivíduo que o deu; e, mediante o registro de seus feitos, sua fé continua a falar, mesmo depois de sua morte (4).

As muitas testemunhas do registro do Antigo Testamento são então repassadas em ordem cronológica e com algum detalhe. Mas em cada caso é posta ênfase sobre o fato que tinham consciência das realidades divinas invisíveis e sobre a certeza que tinham a respeito dos cumprimentos divinos vindouros, tanto em notável contraste com as aparências visíveis como com os acontecimentos naturais imediatos, que freqüentemente pareciam contradizer completamente a sua confiança (9,11,17,18). A grande certeza, firme e toda-suficiente, é o Deus vivo e Sua fiel realização. Assim é que, por exemplo, Moisés permaneceu firme como quem vê aquele que é invisível (27); ele considerou os sofrimentos e os opróbrios terrenos como preferíveis ao desfrutamento das riquezas mundanas, visto que olhava para o infalível recebimento da preciosa recompensa de Deus (25-26). A experiência comum de todos aqueles peregrinos foi a de terem visto, à distância, as recompensas prometidas, que nunca usufruíram nesta existência (13). Não obstante, nunca retiraram sua fé nem voltaram para o mundo, que tinham deixado para trás, visto que confiavam em um cumprimento que era celestial, e não em algum cumprimento terreno (14-16). Essas são as pessoas que Deus considera Suas, condescendendo em chamar-se de seu Deus.

A ênfase final recai sobre as recompensas além desta vida. É verdade que muitos atingiram o alvo da fé, nesta existência, em evidente triunfo (29-35a), e tais vitórias têm sido de todas as espécies-material, moral e espiritual. Contudo, as testemunhas mais notáveis da fé são os mártires (35-38), aqueles que, por causa da fé, suportaram grande sofrimento, aqueles que tiveram morte dolorosa e vergonhosa, por não quererem negar sua fé. Nesses a fé se manifestou vitoriosa em constância indômita, recusando-se a aceitar a libertação ao preço da transigência. Sua recompensa, que assim escolheram, está além da morte, numa superior ressurreição (35; isto é, melhor que a restauração à vida neste mundo, tal como foi outorgado aos filhos das mulheres de Sarepta e Suném). De fato, nenhum daqueles antigos heróis da fé, por mais dignos que sejam de seu lugar nas Escrituras, jamais desfrutou do cumprimento completo das promessas de Deus, visto que o Senhor, em Sua providência, havia ordenado que nós, crentes cristãos, deveríamos desfrutar privilégios maiores ainda, compartilhando desses com aqueles, na consumação (39-40).

Em Hb 11.1 a ordem das palavras no grego põe a ênfase sobre os objetos da fé, isto é, cousas que se esperam e fatos que se não vêem; e a inclusão de um substantivo (gr. pragmata) na segunda frase, torna explícito que essas coisas invisíveis são realidades, o que por si mesmo é prova ou convicção de sua existência. Tal fé é uma condição primária de conhecimento (3), particularmente conhecimento sobre o testemunho bíblico. É essencial para que se compreenda a origem do universo, segundo descrito em Gn 1. É o fundamento de toda reflexão acertada sobre aquele universo que forma o palco e a cena da história humana (3). Pois é impossível prover explicação adequada para isso se simplesmente tirarmos conclusões por aquilo que pode ser observado pelos sentidos. É preciso que reconheçamos a existência anterior e independente do Deus vivo, bem como Sua atividade criadora, como a primeira causa do universo. Comparar a frase pela palavra de Deus com “Disse Deus”, empregado por dez vezes em Gn 1; cfr. também Sl 33.6. Foi a fé mediante a qual Abel ofereceu seu sacrifício, que tornou este aceitável (4) como mais excelente que o de Caim. Abel reagiu mais apropriadamente à verdade sobre Deus, da qual tinha consciência. Foi por causa de sua fé, expressada por sua oferta, que foi reputado justo. E é por meio de sua fé que ele continua falando (isto é, mediante as páginas das Escrituras; note-se o tempo verbal presente, ainda fala), testificando aos homens como se pode agradar a Deus. Note-se que, por meio dela são palavras que se referem à sua fé.