Como Lidar com o Governo Humano — Eclesiastes 8:1-10

Como Lidar com o Governo Humano — Eclesiastes 8:1-10

Eclesiastes 8:1-10

Como Lidar com o Governo Humano


A sabedoria pode ter um efeito sadio sobre quem a possui. “Quem é igual ao sábio?” escreveu o Rei Salomão. “E quem sabe a interpretação duma coisa? A sabedoria do próprio homem lhe faz brilhar a face, e até mesmo a severidade da sua face muda para melhor.” — Ecl. 8:1.

O verdadeiramente sábio destaca-se na sociedade humana, não tendo igual. Além de outro sábio, não há ninguém igual a ele. Sabe “a interpretação duma coisa”, quer dizer, possui a necessária perspicácia para resolver problemas desconcertantes da vida.

Mesmo o semblante do sábio é agradável. Sua face irradia alegria e satisfação íntimas. Em resultado, o que de outro modo poderia parecer como rosto severo e carrancudo, assume uma expressão atraente.

Salomão, como rei, estava em boa situação para dar conselho sobre como se age sabiamente para com os governantes. Ele declarou: “Guarda a própria ordem do rei, e isso de consideração para com o juramento de Deus. Não te precipites, para que não saias de diante dele Não fiques de pé numa coisa má. Pois fará tudo o que se agradar de fazer, porque a palavra do Rei é o poder do controle; e quem lhe pode dizer: ‘Que estás fazendo?’” — Ecl. 8:2-4.
No antigo Israel, os anciãos representativos da nação talvez entrassem num pacto com o rei, concordando em permanecer leais a ele. Por exemplo, lemos sobre Davi: “Vieram, pois, todos os [anciãos] de Israel ao Rei em Hébron e o Rei Davi concluiu com eles um pacto em Hébron, perante Yahweh.” (2 Sam. 5:3) Por conseguinte, a desobediência à ordem do Rei significava infidelidade ao juramento de lealdade feito perante Deus. Por outro lado, a obediência era ter respeito para com o verdadeiro Deus, em cuja presença se celebrara o pacto. De modo similar, por respeito a Deus, os verdadeiros cristãos permanecem submissos aos governos deste mundo, reconhecendo que estes existem por permissão de Deus. — Rom. 13:1, 2.

O conselho de Salomão, sobre não se precipitar em deixar a presença do rei, é ampliada em Eclesiastes 10:4: “Se o espírito dum governante se levantar contra ti, não deixes o teu próprio lugar, pois a própria calma aquieta grandes pecados.” Alguém talvez seja corrigido ou castigado por outro em autoridade. Ele talvez se ressinta da correção e esteja pronto para renunciar a um cargo, ou mesmo a mudar de atitude para com o governante. Salomão, porém, recomenda que se evite a ação precipitada da troca de lealdade ou da renúncia a um cargo. O mesmo princípio pode ser aplicado hoje às relações entre patrões e empregados.

O sábio Rei Salomão aconselha adicionalmente contra ‘ficar de pé numa coisa má’, quer dizer, contra ficar envolvido em algo que o governante considera mau. Em virtude de sua autoridade, as palavras do Rei têm muito mais peso do que a palavra de qualquer de seus súditos. Sua voz é a que exerce o controle; ele tem inquestionável autoridade. Por isso, ninguém pode dizer-lhe em desafio: “Que estás fazendo?”

Aquele que continua a acatar as leis não deve ter nada a temer do governante. Salomão comenta: “Quem guarda o mandamento não ficará conhecendo nenhuma coisa calamitosa.” (Ecl. 8:5) O súdito obediente não sofrerá nenhuma “coisa calamitosa” em punição pela transgressão da lei do rei. O conselho do sábio equipara-se às palavras do apóstolo Paulo: “Quem se opõe à autoridade, tem tomado posição contra o arranjo de Deus; os que têm tomado posição contra este receberão um julgamento para si mesmos. Pois, os que governam são objeto de temor, não para as boas ações, mas para as más. Queres tu, pois, não ter temor da autoridade? Persiste em fazer o bem, e terás louvor dela.” — Rom. 13:2, 3.

Mas o que se dá quando o governante é injusto? Evidentemente, com referência a esta situação, Salomão continua: “O coração sábio conhecerá tanto o tempo como o julgamento. Pois para todo assunto há um tempo e um julgamento, visto que a calamidade da humanidade é abundante sobre eles. Porque ninguém sabe o que virá a ser, pois quem pode informá-lo exatamente sobre como virá a ser?” — Ecl. 8:5-7.

O sábio não se levanta em revolta. Tendo um coração motivado pela sabedoria, ele se dá conta de que há um tempo oportuno para a ação e um modo certo de suportar um governante opressivo. A franca rebelião significaria provocar um desastre. O bom juízo, por outro lado, impedirá que se aja num tempo inoportuno. (Sal. 37:1-7) Para “todo assunto” há uma ocasião, um critério ou uma maneira própria de agir. Portanto, a pessoa só procura barulho se desconsidera este fato e age apressadamente Os homens imperfeitos já têm bastante problemas, sem aumentá-los por ações precipitadas, desconsiderando que “para todo assunto há um tempo e um julgamento”. Além disso, ninguém pode ter certeza sobre o que o futuro reserva. Até mesmo os homens em autoridade morrem. Lembrar-se disso pode ajudar a suportar uma situação difícil. O governo do tirano não pode continuar indefinidamente. Tudo neste sistema imperfeito tem o seu fim.

As conclusões a que Salomão chegou, sobre o governo opressivo do homem, basearam-se em cuidadosa observação. Empenhou-se de coração no exame de todo o escopo de tal governo humano e de seu efeito sobre o povo. Por este motivo, podia dizer: “Tudo isto eu tenho visto, e houve um empenho do meu coração em todo o trabalho que se tem feito debaixo do sol, durante o tempo em que homem tem dominado homem para seu prejuízo.” — Ecl. 8:9.

Governantes tirânicos, porém, não podem prolongar seu domínio indefinidamente. Salmão prosseguiu: “Embora isto seja assim [homem dominando homem para seu prejuízo], tenho visto os iníquos serem enterrados, como entraram e como se foram do próprio lugar santo, e foram esquecidos na cidade em que agiam assim. Também isto é vaidade.” (Ecl. 8:10) Enquanto vivos, os iníquos podiam entrar no lugar santo e sair dele, o qual, nos dias de Salomão, era a cidade santa de Jerusalém com o seu templo de Deus. (Mat. 24:15) Ali não deviam praticar iniqüidade. Quando são enterrados, partem dela para sempre. Apesar da posição enaltecida dos iníquos, eles morrem, são enterrados e, na cidade de sua atividade, logo se desvanecem da memória dos vivos. Assim, a sua vida como governantes tirânicos mostra ter sido vã, vazia.