Os Cinco Discursos no Evangelho de Mateus

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Os discursos constantes em Mateus são “sermões” mais ou menos longos, aos quais foram acrescentados ditos isolados de Jesus, em lugares apropriados. Cada discurso termina com esta fórmula: “Quando Jesus acabou de proferir estas palavras...” Os discursos e seus temas respectivos são conforme mostramos abaixo:

(1) O Sermão da Montanha (capítulos 5 7): Significado da Verdadeira (Interna) Retidão.
(2) A Comissão dos Doze (capítulo 10): Significado do Testemunho em Prol de Cristo (Perseguição e Galardões).
(3) As Parábolas (capítulo 13): Significado do Reino.
(4) Sem qualquer título geral (capítulo 18): Significado da Humildade e do Perdão.
(5) A Denúncia contra os Escribas e Fariseus (capítulo 23) e o Discurso do monte das Oliveiras, freqüentemente chamado “O Pequeno Apocalipse” (capítulos 24 e 25): Significado da Rejeição de Israel. Deus rejeitou a Israel, por haver a nação rejeitado a Jesus, O Messias; ocorrerá um hiato de tempo, Jerusalém será destruída, as nações serão evangelizadas, e então Cristo retornará.

A quíntupla estrutura desses discursos sugere nos que, para benefício de seus leitores judeus, Mateus retratava a Jesus como um novo e maior Moisés. Tal como Moisés, Ele proferiu parte de Sua lei em um monte. Tal como Moisés, Seu ensinamento está contido em cinco seções, correspondentes ao Pentateuco (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio, coletivamente intitulados "a lei de Moisés"). Ao omitir o lance da minúscula oferta da viúva pobre, Mateus chega a soldar a denúncia contra os escribas e fariseus com o discurso do monte das Oliveiras, para que formem uma só unidade (contrastar com Marcos 12:38 ss. e Lucas 20:45 ss.), a fim de tornar possível seu arranjo em cinco porções.

A comparação que ele faz entre Jesus e Moisés também transparece alhures, quando ele toma por empréstimo a fraseologia da história de Moisés, ao descrever a natividade e a transfiguração de Jesus (vide Êxodo 2:15; 4:19,20; 34:29 e Deuteronômio 18:15 juntamente com Mateus 2:13,20,21 e 17:2,5 respectivamente). De fato, na versão de Mateus (mas não na de Lucas) sobre o Sermão da Montanha, o próprio Jesus conscientemente firma Seus princípios segundo moldes paralelos à lei mosaica, em uma série de afirmativas: “Ouvistes que foi dito aos antigos...” e segue se uma citação extraída do Pentateuco – “Eu, porém, vos digo...” (Mateus 5:21,27,31,33,38,43.)

Além da quíntupla estrutura dos discursos, há muitas outras indicações do pendor de Mateus para a organização. Agrupamentos de três e de sete parecem ter sido os favoritos de Mateus. Ele divide a genealogia de Jesus em três porções (1:17). Dentre os ensinamentos de Jesus, ele fornece três exemplos de reta conduta, três proibições e três mandamentos (6:1 7:20). E temos ainda de considerar o caso de três parábolas, três indagações, três orações e três negações. Talvez Mateus houvesse escrito sob a impressão deixada pela lei judaica que diz que pela boca de duas ou três testemunhas, toda palavra será confirmada (vide Deuteronômio 17:6 e 19:5, afirmativa essa que chega a ser realmente citada em Mateus 18:16). Há sete parábolas em Mateus 13 e sete ais contra os escribas e fariseus, no capítulo vinte e três. Embora alguns desses agrupamentos numéricos sem dúvida retrocedam até ao próprio Jesus e aos acontecimentos reais propriamente ditos, sua freqüência, no evangelho de Mateus, demonstra o quanto ele apreciava essas questões, acima dos demais evangelistas.