Comentário Exegético: 1 Tessalonicenses 1:4

Sabendo, amados irmãos, que a vossa eleição é de Deus. (1 Tess. 1:4)


Eleição ἐκλογή (Gr.: ekloge) ocorre cerca de 7 vezes no NT, sendo que dessas 57% aparece na carta de Paulo aos Romanos. Essas são algumas das ocorrências:

(Rom 9:11) μηπω γαρ γεννηθεντων μηδε πραξαντων τι αγαθον η Aφαυλον ινα η κατ εκλογην του θεου μενη ουκ εξ εργων αλλ εκ του καλουντος

(Rom 11:5) ουτως ουν και εν τω νυν καιρω λειμμα κατ εκλογην χαριτος γεγονεν

(Rom 11:28) κατα μεν το ευαγγελιον εχθροι δι υμας κατα δε την εκλογην αγαπητοι δια τους πατερας

(1Tess 1:4) ειδοτες αδελφοι ηγαπημενοι υπο θεου την εκλογην υμων

(2Pe 1:10) διο μαλλον αδελφοι σπουδασατε βεβαιαν υμων την κλησιν και εκλογην ποιεισθαι ταυτα γαρ ποιουντες ου μη πταισητε ποτε.

Essa palavra também ocorre na literatura secular grega, com o sentido de “escolha, seleção, τῶν ἀρχόντων Pl. R. 414a , 536c; ἐ. ποιεῖσθαι Id. Lg. 802b; ἐ. [ τῶν ἀρίστων νόμων ] Arist. EN 1181a18; τῶν ἐναντίων Id. Metaph. 1004a2; ὀνομάτων Phld. Rh. 1.162 S. , D.H. Comp. 1 , etc.; ὀνόματος A.D. Synt. 71.10; κατ' ἐκλογὴν ἀριστίνδην κεκριμένοι Plb. 6.10.9 ; ἐπὶ ἐγλογῇ γεωργεῖν PTeb. 5.166 (ii B.C.) .

2. Cobrança de tropas, Plb. 5.63.11 .

3. Coleta de tributos, etc., κριθῶν Lex Attica ap. Ath. 6.235c; χρημάτων D.C. 42.6; σίτου Cratesap. Ath. 6.235b .

4. Theol., eleição, Ep.Rom. 9.11 , etc.; σκεῦος ἐκλογῆς At.Ap. 9.15 .

5. Balanço dos relatos, PRyl. 157.6 (ii A.D.). II extrair citação de um livro, Apollon. Cit. 3, Ath. 14.663c, Antig. Mir. 15.

2. escolha de passagens, como as de Eclogae ou 'Elegant Extracts' de Stobaeus: ἐκλογαὶ Ἀρχιγένους selecionar prescrições A. , Gal. 14.343.

3. διὰ τὴν ἐ. τῶν ἀνθρώπων porque eles eram homens escolhidos, Plb. 1.47.9 ,cf. Ph. 2.362 .

4. ἐκλογήν· κάλαθον (Lacon.), Hsch.

Thayer comenta que ekloge é o “ato de escolher entre muitos”: skeous ekleges (o genitivo de qualidade; cf. Winer's Grammar, sec. 34, 3 b.; (Buttmann, 161 (140f))), equivalente ao eklekton, a saber, tou theou, Atos 9:15; especialmente usado do ato da livre vontade de Deus pela qual antes da fundação do mundo ele decretou sua benção para certas pessoas;… o decreto feito pela escolha (A. V. the purpose according to election, cf. Winer's Grammar, 193 (182)), Rom. 9:11 (cf. Fritzsche na passagem, p. 298ff); -- particularmente aquilo pelo qual ele determina abençoar certas pessoas através de Cristo.”

Baker's Greek New Testament Library comenta: “A escolha de Deus para com Israel, como a comunidade de pessoas selecionadas para realizar o plano de redenção da humanidade (RO 11.28)”

Vincent comenta:
Ἑκλογὴ eleição, no N.T.; mais frequente nos escritos paulinos... Essa e as palavras relacionadas ἐκλέγειν escolher, e ἐκλεκτὸς escolhido, ou eleito, são usadas da eleição de Deus dos homens, ou agentes, para missões especiais; mas nem aqui nem no resto do NT há qualquer justificativa para a doutrina revoltante de que Deus predestinou um número definitivo da humanidade para a vida eterna, e o restante para a destruição eterna. O sentido desta passagem parece ser definida pelo contexto posterior. Os tessalonicenses tinham sido escolhidos para serem membros da igreja cristã, e sua conduta tinha justificado a escolha. Veja 1Tess 1:5-10.

A.T Robertson diz:
Sua eleição (Gr.: tēn eklogēn humōn). Ou seja, a eleição de vocês feita por Deus. É uma palavra antiga para eklegomai usada por Jesus de sua escolha dos doze discípulos (João 15:16) e por Paulo da seleção eterna de Deus (Ef 1:4). A palavra eklogē  não aparece na LXX e ocorre apenas sete vezes no N.T, e sempre da escolha de Deus dos homens (At 9:15; 1Tess 1:4; Rom 9:11; 11:5, 11:7, 11:8; 2Ped 1:10). O divino eklogē foi manifestado nas qualidades cristãs de Tess 1:3 (Moffatt).

I 1. Eklégomai (utilizado a partir de Heródoto) que está relacionado com eklégo, aparece esporadicamente no NT. O significado de sua forma ativa é selecionar, eleger alguém, ou algo. Este verbo deriva-se de lego, contar, reunir, falar [uma palavra]. O particípio eklektós, utilizado em sua forma adjetiva também se encontra em Platão, designa aquele que tem sido eleito. O sustantivo eklogé, derivado do verbo e utilizado por Platão, apenas designa originalmente a ação de eleger e pode unir aos vermos [Gr.: lambáno], tomar; [Gr.: poiéomai], fazer [Gr.: gínomai], alcançar. Sempre que aparece este grupo de palavras em diferentes contextos pode-se ver claramente em alguns elemento comuns: por uma parte, existem vários objetos entre os quais eleger; e por outra, aquele que elege não está determinado por circunstâncias coativas externas, visto ser livre para tomar sua decisão. Além do mais, o ato de eleger implica que aquele que elege considera a pessoa ou objetivo capaz de realizar o objetivo para o qual ele foi eleito.

2. É provável que esses termos tenham originado-se dos termos militares. Nos escritos de Platão nós encontramos o uso de eklégomai e eklogé como formas de expressão relacionadas com a política. Em todo caso, se refere a eleição de homens que devem cumprir uma determina missão, que devem desempenhar determinado cargo. Essa pode ser a esfera política dos papeis desempenhados pelos presbytai, e os anciãos que governam uma polis (Platão, Resp. V, 558c; VII, 536c; Políbio 6,10, 9), dos principados (principio, art. [arché] III, 4; Platão, Resp. III, 414; Políbio, 6, 4, 3) o de outros funcionários públicos (cf. Platão, Leg. VII, 802b). O termo eklogé também é usado para designar o recrutamento geral dos homens para a guerra (Políbio 5, 63,11) ou a eleição de dentro das tropas de um indivíduo para realizar um missão especialmente importante, difícil e gloriosa (Políbio 9, 13, 9). Dentro de seu contexto helenístico político, ela sempre está ligada a uma obrigação que consiste, antes de tudo, tomar conta dos assuntos dos da comunidade ao qual fora eleito; a polis confere ao indivíduo (mediante os orgão competentes), juntamento com suas prerrogativas especiais, as possibilidades de promover o bem comum.

3. Ao mesmo tempo, estas palavras também são aplicáveis a outras coisas: eklégomai é utilizado, como por exemplo, para indicar a eleição de determinados lugares (Platão, Tim. 24c), a opção por um bem espiritual, ou estético (Symp. 198d), assim como também a seleção de fragmentos especialmente valiosos da literarura da obra de um escritor (Jenofonte, Mem. I, 6,14; Ath. XIV, 663c; Políbio 1, 47, 9). Pode também indicar igualmente a relação de material (p. ex. barcos: Jenofonte, Hell. 1, 1). Este grupo de palavras expressa, pois, uma decisão soberana que diz respeito ao conjunto de coisas mais grandes para conseguir um objetivo especial, deixando de lado o restante.

II 1. a) Com respeito a versão LXX existe algo que chama muito a nossa atenção: o substantivo grego eklogé está totalmente ausente; ou seja, não existe nenhum vocábulo grego que pode traduzir assim a forma abstrata do conceito da língua. Por outra lado, eklégomai (a forma ativa de eklégo, que é sinônima daquela se se constroi da mesma, ocorre apenas 10 vezes, em especial no livros dos reis e nas crônicas, salvo raras exceções, as diferentes formas do verbo hebraico bahar, eleger, selecionar, preferir, que excepcionalmente se traduz com o verbo [Gr.: epilégó], o qual é sinônima do anterior e se deriva da mesma raíz (p. ex. Ex 17, 9; Nm 16, 5) assim como por hairéomai (p. ex. 2 Sam 15, 15; 1 Cr 28, 6), hairetízó (p. ex. Sal 119, 30), arésko, compadecer-se (Dt 23, 16) e bouleúomai, preferir.