Comentário de J.W Scott: Zacarias 2:1-13

comentário bíblico de zacarias
II. c A terceira visão (Zc 2.1-13)

Esta visão segue, em sequência direta, às duas anteriores. O Senhor havia declarado Seu propósito de reedificar Jerusalém e de restaurar sua prosperidade. Agora Ele fornece uma rápida visão sobre a Jerusalém que ainda existiria.

Nessa visão, Zacarias contemplou um jovem com um cordel de medir (1), a quem perguntou: Para onde vais tu? (2). A resposta do jovem relembra a promessa em Zc 1.16: "o cordel será estendido sobre Jerusalém". Nesta altura o anjo intérprete deixa a presença do profeta para ir atrás do homem com o cordel de medir e ordenar-lhe que desista de seu propósito. Ao fazê-lo, é interceptado por um outro anjo a quem orientou para que corresse atrás do homem com o cordel de medir e lhe entregasse a mensagem a respeito de Jerusalém, mensagem essa que é registrada nos versículos 4 e 5, enquanto que ele mesmo permaneceu perto do profeta, para interpretar.

A opinião que o mancebo referido pelo anjo (4) era o próprio Zacarias, dificilmente se adapta às circunstâncias da visão. Por exemplo, é difícil compreender por qual motivo o segundo anjo teria recebido ordens de correr atrás de Zacarias, ou por qual razão o anjo intérprete teria ordenado ao segundo anjo que se encarregasse de interpretar a visão, visto que a função de intérprete pertencia de direito ao próprio anjo intérprete. É muito mais fácil perceber a necessidade de pressa, da parte do segundo anjo, quando assumimos a opinião que a ele foi ordenado que alcançasse alguém que já havia partido para desincumbir-se de sua tarefa. Segundo o ponto de vista que Zacarias era aquele mancebo, não é tão evidente a necessidade de pressa, nem, de fato, é evidente por qual motivo a mensagem do anjo intérprete seria dada a Zacarias por meio de agência do segundo anjo, visto que ele estava tão próximo para ouvir a troca de palavras entre os dois anjos. Zacarias havia interrogado o homem com o cordel de medir acerca do propósito deles; agora tinha de ouvir a mensagem que lhe dirigia o anjo intérprete e, por sua vez, tinha de transmitir essa mensagem a seus compatriotas.

Efetivamente foi uma mensagem extremamente confortadora, aquela transmitida pelo anjo intérprete, e que concordava com o que já havia sido predito no que dizia respeito à futura glória de Jerusalém e à confusão entre seus inimigos. Jerusalém seria habitada como as aldeias sem muros (4; em heb., perazoth). Muitos dos cidadãos, não conseguindo obter abrigo dentro dos limites da antiga cidade, teriam de edificar casas fora dos muros. Mas, mesmo assim, estariam em perfeita segurança; pois, dizia o Senhor: eu... serei para ela um muro de fogo em redor (5). Dentro das trincheiras protetoras da divina onipotência, habitariam em segurança. Além disso, foi adicionada a promessa: serei, no meio dela, a sua glória. O Senhor, que tinha habitado entre os querubins, no templo passado, novamente glorificaria Jerusalém com Sua presença.

A promessa de favor renovado para com Jerusalém é seguida por uma conclamação aos judeus que permaneciam em Babilônia: fugi agora da terra do norte (6) e assim retornassem a seu próprio país. Alguns consideram que as palavras que seguem: porque vos espalhei como os quatro ventos do céu, como uma promessa de futuro alargamento; porém, o contexto apóia antes o ponto de vista de que essas palavras se relacionam à sua dispersão passada. A pressa é recomendada por dois motivos: primeiro, que os exilados que retornassem pudessem compartilhar da prometida prosperidade de Jerusalém; e segundo, que pudessem escapar da destruição de Babilônia. As palavras, Depois da glória (8), podem referir-se de volta à glória prometida a Jerusalém, no versículo 5; e também podem significar que, depois que Deus desse a glória prometida a Jerusalém, haveria de visitar com destruição os seus adversários, conforme já tinha ameaçado fazer. Porém, o fato que não há artigo, no original, antes do termo "glória", não favorece essa interpretação. A significação mais provável é "Ele me enviou em perseguição à glória", isto é, Deus haveria agora de glorificar a Si mesmo mediante a punição contra os opressores de Seu povo, assim tornando manifesta a Sua invariável retidão e inflexível justiça. Aquelas nações, ao "tocarem" de modo hostil em Seu povo, haviam tocado na menina ou "pupila" de Seu olho. Assim Henderson compreende essas palavras, pois ele atribui o pronome possessivo ao Senhor dos Exércitos (8) e não ao adversário.

O levantar a mão (9) ou punho, é uma atitude bem conhecida de ameaça. O tiro haveria de sair pela culatra, contra os opressores; o povo que haviam espoliado, haveria de espoliá-los por sua vez. A interjeição, Cale-se (em heb., has, e que corresponde ao nosso Psiu!), no início do versículo 13, empresta uma solenidade especial ao anúncio que Deus já tinha despertado na sua santa morada, a fim de intervir em favor de Seu povo. A referência às muitas nações, no versículo 11, as quais seriam adicionadas a Israel, provavelmente leva a profecia até os tempos messiânicos.