Comentário de J.W Scott: Mateus 3:1-17

comentário bíblico do evangelho de mateus
II. A PREPARAÇÃO PARA O MINISTÉRIO PÚBLICO DE JESUS (Mt 3.1-4.17)

II.a O ministério de João Batista (Mt 3.1-12)

Ver notas sobre Mc 1.1-8; Lc 3.1-20. Cf. Jo 1.6-34. Naqueles dias (1), quer dizer, uns vinte e oito ou trinta anos depois dos acontecimentos descritos por último. João Batista (1), filho de Zacarias e Isabel e primo de Nosso Senhor, chamado e consagrado desde seu nascimento para ser o precursor de Cristo (ver. Lc 1.5-25,57-80). O deserto de Judéia (1). Banda oriental da província da Judéia, a leste da serra principal e a oeste do Mar Morto. Não era deserto arenoso, mas não permitia cultivo rendoso. Arrependei-vos (2). O sentido radical desta grande palavra evangélica significa uma mudança de coração e de pensamento quanto ao pecado. O termo "conversão" acentua a mesma mudança na relação com Deus. O Reino dos Céus (2). Esta expressão é peculiar a Mateus, que a adota onde os outros evangelistas escrevem "Reino de Deus". Explica-se esta diferença na origem e mentalidade judaica de Mateus, de vez que os judeus consideravam blasfêmia qualquer referência ao nome de Deus. Por esta razão substituíam o termo "Céus". O reino de Deus significava a soberania ou domínio divino que os judeus esperavam no reino de Israel, em cumprimento das suas esperanças messiânicas. Utilizando a expressão "é chegado o reino", João Batista indicou que o advento de Jesus ia introduzir a nova ordem. Voz do que clama no deserto... endireitai as suas veredas (3). Citação dos LXX de Is 40.3 que confirma que aquela passagem fala profeticamente de João Batista. João era uma "voz", o único fim de sua pregação era o de mostrar Jesus Cristo aos homens. Sua tarefa era a de preparar o caminho, chamando os homens ao arrependimento, para que pudessem aceitar o Senhor. Gafanhotos (4). Alguns pensam que se refere a certa qualidade de feijão do mesmo nome. Entretanto, o povo mais pobre comia gafanhotos. Eram batizados (6). O modo de batismo, no tempo de João Batista ou depois, é assunto nunca resolvido por expositores e comentaristas. Ver notas sobre Mc 1.4 e Mc 1.9-11. Confessando seus pecados (6), não necessariamente a João, mas a Deus.

Os fariseus (7). A mais importante das seitas religiosas entre os judeus, que apareceram no período entre os dois Testamentos. Seu objetivo era acentuar e defender as noções religiosas judaicas em oposição ao helenismo, desde que este estava crescendo no Oriente, mercê da influência dos reis gregos da casa Selêucida da Síria. O nome é a forma helenística do hebraico perushim, "os separados". O nome que adotavam por si mesmos era hasidim, "os piedosos". Mantinham uma observância escrupulosa da letra da lei mosaica, mas consideravam a tradição rabínica igual às escrituras do Velho Testamento. Saduceus (7). Segunda, em ordem, das seitas judaicas, depois dos fariseus; é provável que se originaram como reação àquele partido. É possível que o nome se derive do hebraico saddiq, "justos". Ensinavam que a virtude deve ser praticada por amor à própria virtude, sem visar a recompensa. Aceitando essa premissa, chegaram a negar a existência do mundo futuro. Eram os racionalistas da igreja judaica.

A ira futura (7), isto é, o dia de juízo.

II.b O batismo de Jesus (Mt 3.13-17)

Ver nota sobre Mc 1.9-11; Lc 3.21-22. Cumprir toda a Justiça (15). Seu batismo era um passo necessário para cumprir todos os justos propósitos de Deus. Embora não precisando de arrepender-se e não tendo pecado para confessar, Jesus, pelo ato de submeter-se ao batismo, ocupou o lugar do pecador. Este ato simbólico ilustrou outro batismo maior (ver Mt 20.22) que O esperava no Calvário, onde Ele cumpriu cabalmente a vontade divina, pela qual veio ao mundo corno substituto do pecador. Lhe (16). Omitido em alguns manuscritos. Viu (16). Parece que Jesus viu a pomba, símbolo da paz, mas Jo 1.31-34 mostra que João a viu também. O Espírito de Deus (16). Naquele momento sagrado, todas as três pessoas da Santíssima Trindade, eram ou visíveis ou audíveis aos sentidos humanos. Não significa este ato que Jesus não era um com o Espírito desde seu nascimento, melhor, desde a eternidade. Agora veio o Espírito para revesti-Lo de poder para seu ministério público. Meu filho amado (17). Isto não quer dizer que o Pai estava proclamando que Jesus era seu filho, pela primeira vez, nem que Jesus chegou a compreender só naquele momento sua única relação com o Pai. Era cônscio dessa relação desde sua infância (ver Lc 2.49). A mesma proclamação foi reiterada pelo Pai na ocasião da transfiguração (Mt 17.5).