Comentário de J.W Scott: Gálatas 2:15-21

comentário biblico da carta aos gálatas
I. Justificação e União com Cristo mediante a fé (Gl 2.15-21)

Paulo deixa de lado a disputa em Antioquia, e se eleva para regiões altaneiras de pensamento e de experiência. A justificação vem por meio da fé em Cristo, e não pelas obras da lei. Paulo se considerava crucificado de uma vez para sempre juntamente com Cristo, e assim possuía a vida que é realmente vida, por intermédio da fé em Cristo, o qual morreu por ele e agora vivia nele. Mas, se a justiça vem por meio das obras da lei, a conclusão é que a morte de Cristo foi supérflua, sem causa suficiente.

Paulo passa do incidente em Antioquia “a fim de discutir a questão conforme seus próprios méritos, ainda que a princípio tivesse ainda em mente a situação em Antioquia, como se mentalmente estivesse a dirigir-se a Pedro, se é que não estava citando o que disse a ele” (I. C. C.). Tanto ele como Pedro, judeus como eram, haviam descoberto que a salvação jamais pode ser alcançada pelas “obras da lei” (16); mas deve vir mediante a fé em Cristo Jesus (16), fé essa que tem origem nEle e que depende exclusivamente dEle (cfr. Rm 3.26). Esse grande verbo paulino, “justificar” emerge aqui. A justificação envolve mais que o perdão dos pecados; no Breve Catecismo de Westminster é definida como segue: “A justificação é um ato da graça livre de Deus, mediante o qual Ele perdoa todos os nossos pecados e nos aceita como justos aos Seus olhos, baseado somente na retidão de Cristo, a nós imputada, e recebida exclusivamente pela fé”. É justamente o contrário da condenação (cf. Rm 8.33-34).

O argumento dos vers. 17 e 18 é muito condensado. Paulo está ali respondendo a uma suposta objeção, de que a fé em Cristo não torna os judeus melhores que os pecadores gentios, e que, portanto, Cristo é um agente do pecado. Escreve o apóstolo: “Longe de nós tal pensamento! Pelo contrário, eu me constituiria transgressor se retornasse à lei como meio de justificação”. Certo que não (17); jamais seja assim! Por dez vezes, em suas epístolas, Paulo emprega essa poderosa expressão como a repelir, impelido por grande horror, alguma sugestão feita; cf. tais passagens como Rm 3.4; Rm 6.2; Rm 7.7. Porque (19); essa palavra estabelece a declaração prévia: “Ao abandonar a lei como origem da justificação, tão somente eu seguia a orientação da própria lei. Pois a própria lei, por suas minuciosas exigências que eu nunca poderia cumprir, convenceu-me que é totalmente impossível que eu seja justificado por ela. Assim, morri para a lei, para que pudesse viver para Deus, o qual me justifica gratuitamente por Sua graça, à base do que Cristo fez por mim e em meu lugar”.

Alguém já afirmou que quando chegamos ao vers. 20 é como se subitamente tivéssemos passado de um campo de batalha devastado para um lindo jardim. Esse versículo, entretanto, está indissoluvelmente ligado com o anterior. Paulo explica como e onde ele morreu, e igualmente esclarece a natureza e a fonte da vida que agora possuía. Estou crucificado (19); melhor, “tenho sido crucificado”. Trata-se de um tempo verbal perfeito, o que sugere uma morte cujos efeitos permanecem perpetuamente. Já não sou eu (ênfase sobre a palavra “eu”) quem vive, mas Cristo vive em mim. “A melhor exposição sobre esta passagem é a feita pelo próprio Cristo, em Sua declaração acerca da vinha e seus ramos (Jo 15). O ramo, ainda que esteja vivo e a florescer, não possui vida própria, pois sua vida pertence propriamente à vinha. A explicação teológica a respeito é que quando os homens morrem com Cristo sobre a cruz, Ele passa a viver dentro deles pelo Seu Espírito” (Macgregor). Esse viver... pela fé; mais literalmente, “a vida que agora vivo na carne, na fé vivo”; isto é, a vida vivida na carne tem sua raiz oculta noutra parte. Pela fé no Filho de Deus; cf. anotação sobre Gl 2.16, acima. Se entregou (20). O amor é eterno; a suprema exibição e a prova desse amor é a cruz. Ali o Filho de Deus (cf. Gl 4.4) se entregou a Si mesmo à morte que envolvia uma maldição (cf. Gl 3.13). Por mim. Temos aqui um tocante exemplo de fé apropriadora. “Lembrai-vos, sou o pecador a quem Jesus veio salvar”. A vida de que Paulo agora desfrutava era uma doação do favor desmerecido de Deus (21). Trata-se de uma vida aceitável aos olhos de Deus, na qualidade de justo em Cristo. Não anulo (21). Paulo deixa subentendido que aqueles que anulam a graça de Deus, são os que pensam que poderão ser aceitos por Deus por intermédio de suas próprias boas obras; pois, se assim fosse “Cristo morreu em vão”, ou, como diz Lightfoot, “inutilmente, sem causa suficiente”.