Comentário de J.W Scott: Filipenses 1:3-11

comentário bíblico da carta aos filipenses
II. AÇÃO DE GRAÇAS E ORAÇÃO Fp 1.3-11
Uma predominante feição característica da vida do apóstolo é a ação de graças. Constantemente, em cada carta, com exceção da Epístola aos Gálatas, ele infunde no coração dos convertidos o sentimento de gratidão a Deus (Cl 1.12 n.), Cada oração é feita com esse espírito. Aqui nos vers. 3-8 Paulo expressa gratidão a Deus pela amizade (5) que desfrutou com os convertidos em Filipos. Desde o primeiro momento da evangelização da cidade de Filipos até o tempo de seu encarceramento, jamais se quebrou um elo sequer desta amizade. O gr. koinonia deriva-se da raiz que significa "fazer comum" e tem duas aplicações no Novo Testamento. Significa sociedade, comunhão, ter todas as coisas em comum, como na prática da igreja pentecostal (At 2.42), Como não pode haver comunhão sem que haja um "dar" e um "receber", a palavra também é usada no sentido de "contribuição" (Rm 15.26; 2Co 8.4; 2Co 9.13; Hb 13.16. Cf. também Fm 6 n,). O uso de Paulo aqui envolve ambos os sentidos, uma vez que rende graças por sua camaradagem pessoal com os filipenses, uma união louvável não só por si mesma como uma real contribuição para o evangelho. No evangelho (5); melhor, como em algumas versões, que dão plena força à preposição eis ("para" ou "em"), lendo "pela vossa cooperação no evangelho".

A ação de graças de Paulo é inspirada na lembrança (3), expressa em oração (4), seguida de alegria (4) e robustecida pela convicção de que Deus mesmo fará perfeita Sua obra da graça em suas vidas (6). O apóstolo se sente justificado nesta atitude para com Deus e para com os cristãos em Filipos por duas razões. Primeiro, eu vos tenho posto em meu coração (7), uma confissão aberta de amor, interpretada mais adiante, no vers. 8, que significa "meu amor é grande, na verdade, pois é o próprio amor de Cristo amando-vos através de mim", tão íntima é a koinonia entre o apóstolo e seu Salvador. Segundo, todos vós fostes participantes da minha graça, isto é, todos são participantes comigo da graça divina, dada a mim enquanto padeço prisões e estabeleço o evangelho por meu testemunho aqui em Roma e defendo minha fé nas cortes de justiça. A ajuda e simpatia que me estão dando tornam isso manifesto.

Paulo revela que este espírito totalmente impregnado de ação de graças sempre o dominava em todos os exercícios espirituais e o conduzia a uma oração definida. E peço isto (9). Sua palavra aqui, proseuchomai, é o termo mais amplo e mais sagrado. É irrestrito quanto ao conteúdo e nunca é empregado para uma súplica feita a um homem, mas unicamente a Deus. Nesta carta, o apóstolo emprega dois outros termos para oração deesis e aitema. A primeira (Fp 1.4,19) implica uma necessidade real, uma petição urgente; a segunda (Fp 4.6), porém, indica "aquilo que eu preciso pedir", é uma súplica definida. As três palavras, com seus matizes peculiares, encontram-se combinadas em Fp 4.6.

Algumas orações de Paulo nos foram preservadas e se caracterizam por uma adaptabilidade perfeita a cada necessidade agudamente sentida. No caso dos filipenses, ele reconhecia existir um fervente e genuíno emocionalismo, porém, que eles tinham grande necessidade de uma luz compensadora. Ele ora, portanto, não para que se arrefeça o amor dos filipenses, mas para que esse sentimento mais e mais abunde neles, equilibrado, porém, por conhecimento e julgamento ou "discernimento moral" (9). Deste modo, o amor não se tornaria um impulso desregrado, mas um princípio orientador, com o fim prático de que eles pudessem distinguir as diferenças existentes entre as várias qualidades morais e, desse modo, escolher a melhor. Para que aproveis as cousas que são excelentes (10). Uma possível alternativa na interpretação é "posta para provar coisas diferentes", com um voto favorável à mais elevada. O resultado de tal amor e de tal luz em combinação seria, inevitavelmente, que os filipenses saberiam o que deveriam ser ou não ser, sinceros e sem escândalo para si mesmos e para os outros (10). Desse modo, aqueles para quem era feita a oração de Paulo, com amor, enriquecidos por sua intercessão, possuiriam três coisas: uma faculdade de crítica (9-10), um caráter sincero (10) e uma vida cheia de fruto de justiça (11). Todos os louváveis benefícios, bem como a conduta cristã dos santos de Filipos, estariam em perfeita harmonia, todos unidos para glória e louvor de Deus. Note-se que o gr. karpos é singular o não plural, "fruto" não frutos. As raízes de uma nova vida em Cristo produzem o único fruto de santidade ou semelhança de Cristo, embora em diferentes formas e padrões humanos (cf. Gl 5.22 n.).