Novo Comentário da Bíblia: 1 Pedro 1:1-2

comentario biblico de 1 pedroI. SAUDAÇÃO 1Pedro 1.1-2

Chamando a si mesmo pelo novo nome que Cristo lhe deu (cf. Mt 16.18), Pedro saúda seus leitores declarando seu ofício e autoridade de apóstolo de Jesus Cristo (1). Como Selwyn faz notar, Pedro escreveu na qualidade de apóstolo, com aquela autoridade apostólica de que tanto precisavam aqueles a quem se dirigia, em tempo de provação para eles, a prova de fogo que estava para chegar (ainda não havia chegado). O termo "apóstolo" significa pessoa comissionada ou delegada, e assim combina as idéias de autoridade, capacidade e garantia. A autoridade, porém, não é propriamente sua. Recebeu-a de Cristo, a quem deve sua chamada e perante quem afinal é responsável. Sua carta é dirigida aos eleitos (2), isto é, os chamados por Deus. O termo emprega-se nos LXX em referência ao povo escolhido de Deus, sendo que a eleição foi um fato que caracterizou a Israel em sua generalidade (cfr. Dt 4.37; Dt 7.6; Dt 14.2). O mesmo pensamento passou para o Novo Testamento. No cap. 1Pe 2.9 os cristãos são declarados "raça eleita". A eleição depende inteiramente de Deus e não de alguma idoneidade ou ato especial da parte dos eleitos. No caso em apreço, os eleitos eram pessoas do vulgo, pertencentes em sua maioria à classe dos escravos.

Diz que o fundamento da eleição é a presciência de Deus Pai (2). O pensamento aí envolve a idéia de plano e propósito divinos, tendo em vista escolher e chamar. Em santificação do Espírito (2). A eleição ocorre sempre por meio de um agente e tem um desígnio. Santificação significa separar ou pôr à parte, do uso comum para o serviço de Deus. Isto é obra do Espírito Santo. A eleição do Pai na eternidade torna-se efetiva pela obra do Espírito Santo no tempo, o qual opera na alma, separando-a para Deus. O propósito da eleição, segundo declara, é para a obediência (2). A eleição envolve dever e obrigação, tanto quanto privilégio. A obediência é uma exigência divina e uma conseqüência inevitável da eleição. A aspersão do sangue de Jesus Cristo (2) diz respeito ao estabelecimento do novo concerto entre Deus e Seu povo pela morte de Cristo, e a ratificação dele pelo Seu sangue. Pedro aí faz alusão ao sacrifício do concerto de Êx 24.

Mas não eram somente eleitos, eram também forasteiros da Dispersão, espalhados por toda a Ásia Menor ao norte da cordilheira do Tauro. "Dispersão" tornara-se um termo técnico para significar os judeus que se achavam espalhados pelo mundo, fora da Palestina. Aqui, entretanto, Pedro lhe dá aplicação mais ampla, referindo os cristãos, de modo geral, nas províncias nomeadas. Com toda probabilidade, as pessoas aí visadas eram em sua maioria gentios e escravos. São chamados "forasteiros" (peregrinos), termo que indica a transitoriedade da moradia deles. Graça e paz vos sejam multiplicadas (2). Ordinariamente a saudação grega era charein (veja-se At 15.23; At 23.26; Tg 1.1). Charis, derivada da mesma raiz, veio em substituição e tornou-se um termo técnico do evangelho, sendo traduzida por "graça", e significando o favor gratuito, livre, não merecido, de Deus, Seu amor em ação, em Jesus Cristo, a favor dos pecadores. A saudação hebraica, tanto nos encontros como nas despedidas, era shalom ("paz"). É o que resulta da graça, e inclui reconciliação e descanso, embora estas idéias secundárias venham depois do sentido básico.