Análise da Carta aos Hebreus

Análise da Carta aos Hebreus

Análise da Carta aos Hebreus



Nessa análise da carta aos Hebreus, observamos que foi apenas nove anos antes de Jerusalém ser destruída pelos romanos, em 70 E. C., que o apóstolo Paulo escreveu a sua carta dinâmica à congregação hebraica de cristãos naquela cidade. No artigo precedente, consideramos o que ele disse nos capítulos um e dois desta carta. No capítulo três da carta aos hebreus cristianizados, Paulo exorta seus irmãos hebreus a considerar o apóstolo e sumo sacerdote Jesus, que foi fiel como Filho sobre a casa de Deus. Os cristãos têm diante de si a oportunidade de fazer parte desta casa, se se apegarem à sua franqueza no falar e à sua jactância a respeito da esperança até o fim. Isto significa perseverança. Os cristãos precisam evitar criar “um coração iníquo, falto de fé, por se separar do Deus vivente”; antes, precisam continuar a exortar-se e animar-se mutuamente cada dia, enquanto se possa chamar de “hoje”. — Heb. 3:12, 13.

Nas Escrituras há muitas palavras excelentes de conselho e muitos exemplos a serem considerados por nós. Paulo lembrou aos cristãos hebreus ali em Jerusalém alguns destes exemplos para seu encorajamento. Contou como Deus se indignou com o antigo Israel e não deixou a maioria dos hebreus antigos, que saíram do Egito, entrar na Terra da Promessa. Por que não? Porque agiram de modo desobediente, por falta de fé. Ora, nós não queremos falhar de modo similar em ganhar o prometido. Proclamaram-se a nós as boas novas, e se tivermos fé, poderemos ter a certeza de entrar no ‘descanso de Deus’. Por isso nos exortamos e animamos mutuamente a não cair no mesmo modelo de desobediência dos que saíram do Egito. Devemos ter sempre em elevada estima as boas novas que nos foram proclamadas e manter forte a nossa fé. Deixemos que a Palavra de Deus exerça seu poder na nossa vida. “Porque a palavra de Deus é viva e exerce poder, e é mais afiada do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a divisão da alma e do espírito, e das juntas e da sua medula, e é capaz de discernir os pensamentos e as intenções do coração.” — Heb. 4:1-5, 11, 12.

Aqueles cristãos hebreus do primeiro século viviam no meio duma grande multidão de judeus que praticavam a religião rabínica, tradicional, e que procuravam seguir o pacto da lei apesar de este ter terminado. Os cristãos achavam-se na minoria e por isso eram impopulares, perseguidos e odiados. Mas não podiam nem pensar em voltar ao judaísmo para evitar o ódio e a perseguição, nem podiam deixar-se atrair pelas festividades sociais relacionadas com as sinagogas. Tinham de manter conhecimento e entendimento sadios de como Cristo cumpriu a Lei, a fim de não recaírem no judaísmo e em oferecer sacrifícios de animais, coisas que todas, então, eram somente meros ritos vãos e ineficientes aos olhos de Deus.

Sob tais condições, quem estava em melhores condições de compreender a pressão e a perseguição a que os cristãos judeus em Jerusalém estavam expostos do que o apóstolo Paulo? Quem estava melhor preparado para fornecer-lhes argumentos fortes para refutar a tradição judaica do que Paulo, o ex-fariseu? Com o conhecimento da lei mosaica que obteve aos pés de Gamaliel, podia apresentar prova incontestável de que Cristo era o cumprimento da Lei, junto com suas ordenanças e seus sacrifícios, e que o arranjo anterior já havia sido substituído por realidades muito mais gloriosas. Todos os novos ensinos, extraordinariamente brilhantes, a respeito do Cristo foram ali apresentados aos conversos judaicos com provas tão abundantes das Escrituras Hebraicas, que nenhuma pessoa razoável podia deixar de ficar convencida e edificada espiritualmente. A carta aos hebreus mostra o profundo amor de Paulo aos seus irmãos e seu desejo ardente de ajudá-los de maneira prática no seu tempo de grande necessidade espiritual.

I. SUPERIORIDADE DO NOVO SOBRE O VELHO

A consideração desta carta aos hebreus mostra como Paulo salientou a superioridade do novo arranjo feito por Deus para seu povo. Sob este novo sistema de coisas, Jesus Cristo tornou-se para sempre o sumo sacerdote, aquele que não precisa de sucessores assim como precisavam os sumos sacerdotes nos antigos dias levíticos. Ele não precisa oferecer diariamente sacrifícios pelos seus próprios pecados e depois pelos pecados do povo, assim como faziam aqueles sacerdotes. Pôde fazer um único sacrifício perpétuo pelos pecados do povo e depois assentar-se à direita de Deus. — Heb. 6:20; 7:11-28; 8:1; 9:6-28.

Entrou então em vigor um novo pacto que faz coisas que o antigo pacto nunca podia fazer. O pacto da lei lembrava aos homens os seus pecados, exigindo que oferecessem sacrifícios continuamente. E, no entanto, nunca podia abrir o caminho para o homem receber a vida eterna. Paulo citou a profecia de Jeremias a respeito dum novo pacto que seria feito por Deus: “‘Este é o pacto que celebrarei com eles depois daqueles dias’, diz o SENHOR. ‘Porei as minhas leis nos seus corações e as escreverei nas suas mentes.’” E ele continuou a citação, dizendo: “De modo algum me lembrarei mais dos seus pecados e das suas ações contra a lei.” “Ora, onde há perdão desses”, argumenta Paulo, “não há mais oferta pelo pecado”. (Heb. 10:16-18; 8:7-13; Jer. 31:31-33) De modo que o novo é enormemente superior ao antigo, de muitas maneiras.

No capítulo 11 da carta de Paulo aos hebreus salienta-se a fé como absolutamente necessária, pois sem ela é impossível agradar a Deus. Os hebreus cristianizados sabiam tudo sobre os seus antepassados, os homens fiéis da antiguidade. Por isso, Paulo pôde usar aquilo pelo qual Abraão e os outros homens de fé haviam passado como meio de encorajamento. Aqueles homens devotos de Deus demonstraram a absoluta necessidade de se manter fé forte sob muitas provas. Daí, no capítulo 12, Paulo culminou seu argumento com a referência ao Agente Principal e Aperfeiçoador de nossa fé, dizendo: “Assim, pois, visto que temos a rodear-nos uma tão grande nuvem de testemunhas, ponhamos também de lado todo peso e o pecado que facilmente nos enlaça, e corramos com perseverança a carreira que se nos apresenta, olhando atentamente para o Agente Principal e Aperfeiçoador da nossa fé, Jesus. Pela alegria que se lhe apresentou, ele aturou uma estaca de tortura, desprezando a vergonha, e se tem assentado à direita do trono de Deus. Deveras, considerai de perto aquele que aturou tal conversa contrária da parte de pecadores contra os próprios interesses deles, para que não vos canseis nem desfaleçais nas vossas almas.” (Heb. 12:1-3) A perseverança fiel de Cristo é o exemplo que devemos copiar. Ele aturou a conversa contrária e a dor porque podia ver mediante a fé a alegria que o aguardava depois de passar pela morte. Se a nossa fé for forte, ao ponto de podermos antever as promessas nos aguarda, então também deveremos poder perseverar. Por manter assim focalizado um holofote espiritual na superioridade do exemplo de Cristo e no arranjo cristão, Paulo pôde exortar seus conservos de Deus a manter uma estima elevada das coisas sagradas.

II. ANIMADOS A ESTIMAR AS COISAS SAGRADAS

Ele mostrou também a importância da santificação e da pureza, relacionando-as juntas, dizendo: “Empenhai-vos pela paz com todos e pela santificação sem a qual nenhum homem verá o Senhor, vigiando cuidadosamente para que ninguém seja privado da benignidade imerecida de Deus; para que nenhuma raiz venenosa, brotando, cause dificuldade e para que muitos não sejam aviltados por ela; para que não haja fornicador, nem alguém que não estime as coisas sagradas, igual a Esaú, que em troca de uma só refeição renunciou aos seus direitos de primogênito. Porque sabeis que também depois, quando quis herdar a bênção, ele foi rejeitado, porque, embora buscasse seriamente uma mudança de pensamento [por parte de seu pai], com lágrimas, não achou lugar para ela.” (Heb. 12:14-17) Sim, Esaú não conseguiu manter a estima pelas coisas sagradas nem mesmo sob a ligeira pressão de sentir fome. Ele não teve a fé necessária para visualizar a alegria resultante para os fiéis. Não suportou uma prova tão pequena. Nestes “últimos dias” haverá escassez de víveres, e nós também podemos às vezes ter fome. Mas este não é motivo de renunciar à nossa situação abençoada como servos de Deus. Deus nos ajudará através de todas as nossas provações, sejam pequenas ou grandes. (Mat. 4:1-11) Neste respeito, Jesus é nosso grande exemplo.

Paulo recomenda como remédio aos que talvez tenham ficado obtusos no seu ouvir e recaído na inatividade: “Apeguemo-nos à declaração pública da nossa esperança, sem vacilação, pois aquele que prometeu é fiel. E consideremo-nos uns aos outros para nos estimularmos ao amor e a obras excelentes, não deixando de nos ajuntar, como é costume de alguns, mas encorajando-nos uns aos outros, e tanto mais quanto vedes chegar o dia.” (Heb. 10:23-25) Isto nos salienta a importância de tanto assistirmos às reuniões como de regularmente participarmos nas reuniões, a fim de mantermos nossa estima de coisas espirituais. Os que ficaram fracos ou obtusos no seu ouvir podem ser restabelecidos ou estimulados ao amor e a obras excelentes quando os levamos às reuniões cristãs. Realmente, não há nada que possa substituir esta provisão de Deus.

Paulo nos disse que devemos encorajar-nos uns aos outros tanto mais ao vermos chegar o dia. Agora que já atingimos o estágio da história em que está próximo o fim da regência de Satanás, torna-se imperioso que continuemos a encorajar-nos uns aos outros. Embora a maioria dos verdadeiros cristãos, atualmente, não tenha procedido do sistema religioso judaico que se opunha aos primitivos cristãos e os perseguia, contudo, vivemos cercados de tentações e estamos sob a pressão da perseguição e do ódio de muitas outras fontes. Saímos de Babilônia, a Grande, que em alguns lugares ainda parece estar materialmente próspera, mas certamente não queremos voltar às suas práticas más. Pedro advertiu contra tal coisa. (2 Ped. 2:21, 22) Chegou o tempo de termos em alta estima as coisas sagradas que aprendemos. Por causa do amor existente na congregação cristã, todos desejam ver seus irmãos e suas irmãs perseverar e continuar no caminho que conduz à vida eterna. Portanto, é tempo de nos exortarmos e encorajarmos uns aos outros. Cada um de nós poderá lembrar-se do que o apóstolo Paulo fez para encorajar e ajudar seus irmãos. Salientou-lhes a superioridade deste arranjo novo e melhor feito por Deus para seu povo. De modo que não deve haver nenhuma inclinação da nossa parte de nos afastarmos para o mundo e seus sistemas religiosos.

Nós também podemos tirar proveito do que Paulo disse aos hebreus, lembrando-nos da grande provisão feita por Deus por meio do sacerdócio eterno, dos benefícios do novo pacto e de se tirarem os pecados para sempre por meio do único sacrifício de Cristo. Embora possamos ter ouvido estas coisas muitas vezes, não são algo comum ou ordinário. São absolutamente superiores. A repetição da verdade é edificante. Há muitas oportunidades excelentes de se falar dos benefícios espirituais que todos nós usufruímos como servos dedicados do Senhor nestes ‘últimos dias”. Por lembrarmos um ao outro estas coisas todo-importantes nos ajudaremos mutuamente para não nos desviarmos.

III. BENEFÍCIOS ESPIRITUAIS

Quais são alguns dos benefícios espirituais que nós, como servos do SENHOR, podemos mencionar uns aos outros? São muitos. Podemos começar por dizer que sabemos como obter a vida; estimamos o sacrifício de resgate de Cristo. (Rom. 6:23) Pense nos que ainda praticam o judaísmo e que ainda aguardam o Messias, ou pense nos que são pagãos, sabendo pouco ou nada a respeito de Cristo e da esperança de vida. (1 Cor. 1:18, 23) Ou pense na cristandade, toda confusa com as muitas teorias e filosofias falsas e que não segue o rumo que conduz à salvação por Cristo. (Veja Mateus 15:1-9.) Em contraste, os servos de Deus foram libertos das tradições de Babilônia, a Grande. (João 8:31, 32) Não vivemos em medo de sofrer num purgatório ou num inferno de fogo. Sabemos que os mortos estão dormindo. Temos a maravilhosa esperança da ressurreição. (João 5:28, 29; 1 Tes. 4:13-18; Ap. 20:4-13) Não estamos em confusão por causa do ensinos falsos. Fomos libertos da superstição — não confiamos em amuletos, imagens, ídolos, e não precisamos arrastar-nos de joelhos montanha acima ou até altares, em cerimônias religiosas. Não sofremos por causa do descaso espiritual de falsos pastores na cristandade, nem somos oprimidos pelos seus clérigos. (1 Cor. 10:14; Mat. 9:36; Luc. 22:25, 26; 2 Cor. 1:24) Estas verdades são algo especial, que comparativamente poucos entendem.

Pense em como Deus abriu a mente e o entendimento de seu povo para reconhecer os perigos do demonismo, nas suas muitas manifestações, tais como a astrologia e predizer a sorte, e em como isto nos protege contra ele. (Deu. 18:10-12; 1 Cor. 10:21; Gál. 5:19, 20; 1 Tim. 4:1; Ap. 18:4, 23) Embora outros tenham medo, nós não precisamos temer o espiritismo. — Núm. 23:21, 23; Pro. 18:10.

As condições do mundo estão piorando de dia em dia. Os homens desfalecem por causa do medo do que possa vir. No meio de todos, só os servos do SENHOR têm verdadeira esperança no futuro. Estes cristãos têm irmãos amorosos que os consolam e edificam; quando alguém está em necessidade, há outros para ajudá-lo. Especialmente quando Babilônia, a Grande, for destruída no meio de grande violência haverá ocasião para estes cristãos fiéis se consolarem e ajudarem mutuamente e para verem a salvação do Senhor. Haverá deveras muitas bênçãos por se estar então nas fileiras do povo de Yehowah. — Luc. 21:26; 1 Tes. 5:12-15; Ap. 17:15-18; 19:1.

Sabemos por que se permitiu a iniquidade. Compreendemos o significado dos “últimos dias” e não precisamos envolver-nos na política e na confusão do mundo. Os verdadeiros cristãos não se envolvem nas greves, nos distúrbios, nas insurreições e nas coisas contra a lei, nestes “últimos dias”. Tudo isso é proteção para nós. — Êxo. 9:15, 16; Jó 1:6-2:10; João 6:15; 17:16; Rom. 13:1-9.

Os verdadeiros cristãos gozam pessoalmente de muitos benefícios. Visto que não temos as ansiedades daqueles que estão neste velho mundo, que não têm esperança, podemos evitar muitas aflições. A ansiedade é uma das causas principais das doenças cardíacas. Por seguirmos as leis de Deus em questões de moralidade, evitamos as doenças venéreas do mundo, que se alastram muito rapidamente nestes “últimos dias”. Mantemo-nos limpos do hábito de fumar, e isto é uma proteção contra o câncer, que aflige agora a tantos. Não nos tornamos beberrões, e por isso não padecemos do efeito destrutivo do alcoolismo na mente e no corpo. Não sofremos a infelicidade trazida pela perda na jogatina. Os feriados mundanos fazem com que muitos se endividem para mostrar “espírito festivo”, e depois passam muitos meses tentando pagar suas dívidas. Em contraste, o conhecimento da verdade da Palavra de Deus nos faz felizes, e diz-se que um coração feliz é bom remédio. Há também muita felicidade em transmitir a verdade a outros. De modo que há muitos benefícios, de todas as maneiras! — Fil. 4:6, 7; Gál. 5:19-23; Pro. 4:20-22; Mat. 5:3-12; Atos 20:35.

Um grande número de famílias do mundo rompem-se hoje por falta de respeito para com as leis de Yehowah. Mas o ensino do Senhor nos tem ajudado a alcançar a união familiar. Seguindo-se as Escrituras, os filhos devidamente instruídos pelos pais nas atividades cristãs são protegidos contra os efeitos prejudiciais da delinquência e do vício dos narcóticos, tão prevalecentes hoje em dia e que resultam em tanta aflição e infelicidade. — Efé. 6:1-4; Pro. 3:1, 2.

Nossa associação na congregação cristã e o companheirismo com nossos irmãos são uma grande bênção, pois é um verdadeiro prazer estar com os que produzem os frutos do espírito. Assim não ficamos envolvidos com as obras da carne, que são tão prejudiciais. — Pro. 17:17; Gál. 5:22-26; 1 Cor. 15:33.

Seria possível prosseguir e gastar muitas horas revisando as bênçãos do arranjo de Deus provido para seus servos. Quem, senão os servos do Senhor, pode ver o que o reino de Deus significa? (Sal. 2:4-6; 110:1, 4; Dan. 2:44; 7:13, 14; Mat. 11:25-27; 13:44; Ap. 11:15-17; 19:11-21) Quem mais entende de que modo Deus, sob esta regência do Reino, fará desta terra um paraíso em que o homem há de viver para sempre? (Rev. 21:1-5; Sal. 37:9-11, 29; Ecl. 1:4; Isa. 65:17-23; Eze. 34:25-27; Luc. 23:42, 43) Ao passo que lê a Palavra de Deus, pense em todos os modos em que Deus proveu o que necessitamos, e nunca deixe de agradecer ao Senhor todas as bençãos. (Rom. 8:28) É esta espécie de estima das boas coisas de Deus e esta reflexão nas suas muitas bênçãos que edificam e animam. É sobre isso que devemos falar. (Atos 14:21, 22; 1 Cor. 14:3) É assim que podemos ajudar-nos mutuamente a manter nossa espiritualidade. Mesmo que venham provas, recebemos muitas provisões de Deus para nos ajudar a perseverar. (Tia. 1:12) Fortalecemos nossa fé como pessoas e como congregações, de modo que estamos numa situação excelente para perseverar até o fim, ao resistirmos às tentações e às más influências destes “últimos dias” e participarmos na proclamação das boas novas. Portanto, seja nossa determinação a mesma que a expressa pelo apóstolo Paulo: “Ora, nós não somos dos que retrocedem para a destruição, mas dos que têm fé para preservar viva a alma.” — Heb. 10:39.