Introdução Bíblica: Livro de Levítico

LEVÍTICO, LIVRO, INTRODUÇÃO, ESTUDO, ESBOÇOEscritor: Moisés
Lugar da Escrita: Ermo
Escrita Completada: 1512 AEC
Tempo Abrangido: 1 mês (1512 AEC)

O livro de Levítico é o de número 3 no cânon das Escrituras. O nome mais comum do terceiro livro da Bíblia é Levítico, que vem de Leu·i·ti·kón da Septuaginta grega, através do “Leviticus” da Vulgata latina. Este nome é apropriado, embora os levitas sejam mencionados apenas de passagem (em 25:32, 33), pois o livro consiste principalmente em regulamentos para o sacerdócio levítico, escolhido da tribo de Levi, e em leis que os sacerdotes ensinavam ao povo: “Pois, são os lábios do sacerdote que devem guardar o conhecimento e da sua boca devem as pessoas procurar a lei.” (Mal. 2:7) No texto hebraico, o livro é chamado segundo a sua expressão inicial, Wai·yiq·rá’, literalmente: “E ele passou a chamar.” Entre os judeus posteriores, o livro era também chamado de Lei dos Sacerdotes e Lei das Ofertas. — Lev. 1:1, nota.

Não resta dúvida de que Moisés escreveu Levítico. A conclusão, ou colofão, declara: “Estes são os mandamentos que Yehowah deu a Moisés.” ( 27:34) Há uma declaração similar em Levítico 26:46. As evidências apresentadas anteriormente, de que Moisés escreveu Gênesis e Êxodo, comprovam também que ele escreveu Levítico, visto que o Pentateuco evidentemente era originalmente um só rolo. Além do mais, Levítico é ligado aos livros precedentes por meio da conjunção “e”. O mais forte testemunho de todos é que Jesus Cristo, bem como outros servos inspirados de Yehowah, citam frequentemente as leis e os princípios de Levítico ou referem-se a eles e os atribuem a Moisés. — Lev. 23:34, 40-43 — Nee. 8:14, 15; Lev. 14:1-32 — Mat. 8:2-4; Lev. 12:2 — Luc. 2:22; Lev. 12:3 — João 7:22; Lev. 18:5 — Rom. 10:5.

Que período abrange Levítico? O livro de Êxodo termina quando se erige o tabernáculo “no primeiro mês, no segundo ano, no primeiro dia do mês”. O livro de Números (que se segue imediatamente ao relato de Levítico) começa com Yehowah falando a Moisés “no primeiro dia do segundo mês, no segundo ano da saída deles da terra do Egito”. Segue-se, portanto, que não poderia ter passado mais de um mês lunar para os poucos eventos de Levítico, consistindo a maior parte do livro em leis e regulamentos. — Êxo. 40:17; Núm. 1:1; Lev. 8:1-10:7; 24:10-23.

Quando Moisés escreveu Levítico? É razoável concluir que ele guardou um registro dos eventos ao passo que iam ocorrendo, e que escreveu as instruções de Deus à medida que as recebia. Isto é implícito na ordem de Deus a Moisés de escrever a condenação dos amalequitas logo após Israel tê-los derrotado em batalha. Ademais, certos assuntos no livro sugerem que foi escrito logo. Por exemplo, ordenou-se aos israelitas trazer animais que desejassem usar para alimentação à entrada da tenda de reunião, para serem abatidos. Esta ordem teria sido dada e registrada pouco depois do estabelecimento do sacerdócio. Muitas instruções são dadas para a orientação dos israelitas durante a sua viagem no ermo. Tudo isto indica que Moisés escreveu Levítico durante 1512 AEC. — Êxo. 17:14; Lev. 17:3, 4; 26:46.

Por que se escreveu Levítico? Yehowah se propusera a ter uma nação santa, um povo santificado, colocado à parte para Seu serviço. Desde os dias de Abel, homens fiéis de Deus vinham oferecendo sacrifícios a Yehowah, mas foi primeiro à nação de Israel que Yehowah deu instruções específicas sobre ofertas pelo pecado e outros sacrifícios. Estes, segundo explicado em pormenores em Levítico, deixaram os israelitas cientes da excessiva pecaminosidade do pecado e incutiu-lhes na mente quão desagradáveis isto os tornava aos olhos de Yehowah. Tais regulamentos, como parte da Lei, serviram como tutor conduzindo os judeus a Cristo, mostrando-lhes a necessidade de um Salvador, e, ao mesmo tempo, serviam para mantê-los como povo separado do resto do mundo. Em especial as leis divinas sobre pureza cerimonial serviram para este último objetivo. — Lev. 11:44; Gál. 3:19-25.

Como nova nação caminhando para uma nova terra, Israel necessitava de direção correta. Ainda não passara um ano desde o Êxodo, e os padrões de vida do Egito, bem como as suas práticas religiosas, ainda estavam vivos na mente deles. O casamento entre irmão e irmã era comum no Egito. Praticava-se a adoração falsa em honra de muitos deuses, alguns deles sendo deuses animais. Agora esta grande congregação estava a caminho de Canaã, onde a vida e as práticas religiosas eram ainda mais degradantes. Mas, observe de novo o acampamento de Israel. Engrossando a congregação havia muitos egípcios puros ou mestiços, uma multidão mista que vivia bem no meio dos israelitas e que nascera de pais egípcios e fora criada e instruída segundo os costumes, a religião e o patriotismo dos egípcios. Muitos destes, sem dúvida, até bem pouco antes, na sua terra, entregavam-se a práticas detestáveis. Quão necessário é que recebam agora orientações pormenorizadas de Yehowah!

Levítico traz em sua inteireza a marca da inspiração divina. Meros humanos não poderiam ter formulado as suas leis e seus regulamentos sábios e justos. Os seus estatutos relativos à alimentação, doenças, quarentena e tratamento de cadáveres revelam um conhecimento de fatos que os homens da medicina, do mundo, só vieram a conhecer milhares de anos mais tarde. A lei de Deus sobre animais impuros para alimentação protegeria os israelitas durante a sua viagem. Ela os protegeria contra a triquinose provinda de porcos, a febre tifóide e paratifóide de certos tipos de peixe e infecções provindas de animais encontrados mortos. Estas leis práticas visavam orientar a religião e a vida deles, para que permanecessem como nação santa e atingissem e habitassem a Terra Prometida. A história mostra que os regulamentos fornecidos por Yehowah resultaram em os judeus levarem definida vantagem sobre outros povos em questões de saúde.

O cumprimento das profecias e das prefigurações contidas em Levítico prova adicionalmente a sua inspiração. Tanto a história sagrada como a secular registram o cumprimento dos avisos de Levítico sobre as conseqüências da desobediência. Entre outras coisas, predisse que mães comeriam seus próprios filhos, por causa da fome. Jeremias indica que isto se cumpriu na destruição de Jerusalém, em 607 AEC, e Josefo conta que isso aconteceu também na destruição posterior da cidade, em 70 EC. A promessa profética de que Yehowah se lembraria deles, se eles se arrependessem, cumpriu-se no retorno deles de Babilônia, em 537 AEC. (Lev. 26:29, 41-45; Lam. 2:20; 4:10; Esd 1:1-6) Como testemunho adicional da inspiração de Levítico, há as citações que outros escritores da Bíblia fazem dele como sendo Escritura inspirada. Além dos textos citados anteriormente para provar que Moisés é o escritor, queira consultar Mateus 5:38; 12:4; 2 Coríntios 6:16 e 1 Pedro 1:16.

O livro de Levítico magnifica coerentemente o nome e a soberania do Criador. Nada menos de 36 vezes as suas leis são atribuídas a Deus. O próprio nome Yehowah aparece, em média, dez vezes por capítulo, e repetidas vezes se inculca a obediência às leis de Deus mediante o lembrete: “Eu sou Yehowah.” O tema de santidade permeia Levítico, que menciona este requisito mais do que qualquer outro livro da Bíblia. Os israelitas deviam ser santos porque Yehowah é santo. Certas pessoas, lugares, objetos e períodos foram reservados como santos. Por exemplo, o Dia da Expiação e o ano do Jubileu foram reservados como períodos de observância especial na adoração de Yehowah.

Em harmonia com a sua ênfase à santidade, o livro de Levítico frisa o papel que o derramamento de sangue, isto é, o sacrifício de uma vida, desempenhava no perdão dos pecados. Os sacrifícios de animais limitavam-se aos animais domésticos e limpos. Para certos pecados, requeria-se a confissão, a restituição e o cumprimento de uma penalidade, além do sacrifício. Para outros pecados, a penalidade era a morte.