Referências ao Antigo Testamento no Novo Testamento

ANTIGO TESTAMENTO, NOVO TESTAMENTO, REFERÊNCIAS
Referências do Novo Testamento a livros específicos do Antigo Testamento: Dos 22 livros do cânon judaico mencionados por Josefo (Contra Ápion, i, 8), cerca de 18 são citados no Novo Testamento como autorizados. Não se encontram menções a Juizes, a Crônicas, a Ester e ao Cântico dos Cânticos, ainda que haja referências a acontecimentos de Juizes (Hb 11.32) e de Crônicas (Mt 23.35; 2Cr 24.20). Pode haver uma alusão a Cântico dos Cânticos 4.15 na referência que Jesus faz a “águas vivas” (Jo 4.10), mas tal citação não seria apoio à autoridade do livro. De maneira semelhante, a provável referência à Festa do Purim, de Ester 9, em João 5.1, ou a similaridade entre Apocalipse 11.10 e Ester 9.22 não poderiam ser consideradas apoio à inspiração de Ester. A autoridade divina investida sobre o livro de Ester é satisfatoriamente atestada de outra forma, não, todavia, mediante citações do Novo Testamento. Quase todos os 18 livros restantes do cânon hebraico são citados com autoridade no Novo Testamento. A criação do homem em Gênesis (1.27) é citada por Jesus em Mateus 19.4,5. O quinto mandamento de Êxodo 20.12 é citado como Escritura em Efésios 6.1. A lei da purificação dos leprosos, registrada em Levítico 14.2-32, é citada em Mateus 8.4. Números é mencionado indiretamente, pois em 1Coríntios há referência a acontecimentos registrados naquele livro, referência essa para admoestação dos cristãos (1Co 10.11). Números 12.7 registra a fidelidade de Moisés, sendo essa passagem mencionada com autoridade em Hebreus 3.5.

Deuteronômio é um dos livros mais citados do Antigo Testamento. Jesus o menciona duas vezes em sua tentação (Mt 4.4 e 4.7; cf. Dt 8.3 e 6.16). Josué recebeu a promessa da parte de Deus: “... não te deixarei, nem te desampararei” (1.5), a qual é citada em Hebreus 13.5. Jesus citou o incidente de 1Samuel 21.1-6, em que Davi comeu os pães da proposição, em apoio à autoridade do Senhor de exercer certas atividades no dia de sábado. A resposta de Deus a Elias, em 1Reis 19.18 é citada em Romanos 11.4. Esdras e Neemias provavelmente são citados em João 6.31 (cf. Ne 9.15), ainda que a provisão de “pão do céu” a Israel por parte de Deus também seja citada em outras passagens (Sl 78.24; 105.40). A autoridade divina do livro de Jó (5.12) é demonstrada de modo claro por Paulo: “Como está escrito: Ele apanha os sábios na sua própria astúcia” (1Co 3.19). O livro de Salmos é outro do Antigo Testamento que se menciona com muita frequência. Era um dos favoritos de Jesus. Compare Mateus 21.42 — “A pedra que os edificadores rejeitaram, essa se tornou a pedra angular” — com Salmos 118.22. Pedro citou o salmo 2 em seu sermão do Dia de Pentecostes (At 2.34,35). Hebreus apresenta abundância de referências aos Salmos; o primeiro capítulo cita os salmos 2,104,45 e 102. Provérbios 3.34 — “Ele escarnece dos escarnecedores, mas dá graça aos humildes” — é citado com toda clareza em Tiago 4.6. Não existe citação literal de Eclesiastes, mas algumas passagens contêm doutrinas aparentemente confiáveis. A declaração de Paulo “Tudo o que o homem semear, isso também ceifará” (Gl 6.7) é parecida com a de Eclesiastes 11.1. O desafio para que se evite a luxúria da juventude (2Tm 2.22) reflete Eclesiastes 11.10. Outros exemplos são os seguintes: a morte é determinada por Deus (Hb 9.27; cf. Ec 3.2); o amor ao dinheiro é a fonte do mal (1Tm 6.10; cf. Ec 5.10); não devemos multiplicar palavras vãs em nossas orações (Mt 6.7; cf. Ec 5.2). Isaías é outro autor do Antigo Testamento muito citado no Novo. João Batista, em Mateus 3.3, apresentou Jesus com a citação de Isaías 40.3. Na sinagoga de sua cidade natal, Jesus leu Isaías 61.1,2: “O Espírito do Senhor está sobre mim” (cf. Lc 4.18,19). Paulo citava Isaías com frequência (cf. Rm 9.27; At 28.25-28). Jeremias 31.15 é citado em Mateus 2.17,18, e a nova aliança de Jeremias (cap. 31) é citada duas vezes em Hebreus 8.8 e 10.16. Lamentações, apenso a Jeremias na relação dos 22 livros da Bíblia hebraica, é mencionado em Mateus 27.30 (cf. Lm 3.30). Ezequiel é citado em diversas ocasiões no Novo Testamento, ainda que nenhuma citação seja literal. O ensino de Jesus a respeito do novo nascimento (Jo 3.5) pode ter-se originado em Ezequiel 36.25,26. Romanos 6.23 declara: “o salário do pecado é a morte”, o que reflete Ezequiel 18.20: “A alma que pecar, essa morrerá”. O uso que João faz das quatro criaturas viventes (Ap 4.7) reflete com clareza Ezequiel 1.10. Daniel é identificado pelo nome no sermão do monte, pregado por Jesus (Mt 24.15; cf. Dn 9.27; 11.31), e Mateus 21.30 reflete Daniel 7.13. Os doze profetas menores foram agrupados no Antigo Testamento hebraico. Há muitas citações desse grupo de escritos. A famosa expressão de Habacuque “O justo pela sua fé viverá” (Hc 2.4) é mencionada em três ocasiões no Novo Testamento (Rm 1.17; Gl 3.11; Hb 10.38). Mateus 2.15 cita Oséias 11.1: “Do Egito chamei a meu filho”. Diante disso, verificamos que só Juízes, Rute, Crônicas, Ester e Cântico dos Cânticos deixam de ser mencionados com clareza no Novo Testamento. No entanto, Juizes apresenta acontecimentos históricos a que a Novo Testamento faz alusão como autênticos (Hb 11.32). E talvez Jesus tinha Crônicas em mente ao fazer referência ao sangue de Zacarias (Mt 23.35). Isso faz que apenas Ester e Cântico dos Cânticos fiquem sem uma referência explícita no Novo Testamento; e isso ocorreu, sem dúvida, porque os autores do Novo Testamento não tiveram oportunidade de mencionar tais livros.

Ester é o livro básico da Festa do Purim, e Cântico dos Cânticos era lido na grande Festa da Páscoa, que reflete a estima que a comunidade judaica lhe votava. O Novo Testamento dá apoio à vindicação de inspiração divina do Antigo Testamento como um todo, de todas as suas partes e de quase cada um de seus livros. Além disso, há referências diretas e repletas de autoridade a muitas das grandes personalidades e dos grandes acontecimentos do Antigo Testamento, dentre os quais a criação de Adão e de Eva (Mt 19.4), o dilúvio do tempo de Noé (Lc 17.27), o chamado miraculoso de Moisés (Lc 20.37), a miraculosa provisão material para Israel no deserto (Jo 3.14; 6.49), os milagres de Elias (Lc 4.24,25) e Jonas no ventre do grande peixe (Mt 12.41).