III. Canonicidade.

A autenticidade deste livro da Bíblia é sustentada pela menção dele no Fragmento Muratoriano, do segundo século EC. Além disso, Clemente de Alexandria (do segundo século EC) o aceitou como canônico, dizendo: ““dei um exposição concienciosa a todas as escrituras canônicas, sem omitir os livros disputados – A espístola de Judas e outras cartas católicas” (citado por Westcott, Canaanite, 322-23 e Salmon, Intro, 493). Orígenes referiu-se a ele como sendo obra “de apenas poucas linhas, contudo, cheia de palavras salutares de graça celestial”. (Matt., tom. X, 17). Tertuliano também o considerava autêntico. Eusébio, falando da Epístola de Tiago diz: “... Nós sabemos que estas cartas (Tiago e Judas) têm sido usadas publicamente com o restante na maioria das Igrejas.” Não resta dúvida de que tem seu lugar entre as demais Escrituras inspiradas. O Dr. Albert Barnes em seu comentário das Escrituras, ao considerar a canonicidade da carta diz: “Não deve existir nenhuma dúvida da sua autoridade canônica, e sua afirmação de pertencer ao Novo Testamento.”[1] Alguns tentaram desacreditar esta carta inspirada porque, segundo alguns comentadores, ela cita muitas coisas que não se encontram em canto algum das Escrituras Sagradas, como também, segundo o Dicionários Bíblico de John L. McKenzie, S. J. página 514 parágrafo 4: “Sua canonicidade era posta em dúvida em virtude das citações de livros apócrifos que apresenta.” Estas citações conforme mencionadas por McZenzie são dois versículos, 9 e 14.

O fato de Judas mencionar verdades Bíblicas que outros livros e cartas não mencionam, ou até mesmo não se acham em nenhuma parte escrita das Escrituras Hebraico-Aramaicas não dão provas de que este bela carta não seja inspirada. Isso fica bem evidente pelo fato de que outros escritores bíblicos, às vezes, falavam de detalhes que não se encontravam em outra parte das Escrituras, ou, pelo menos, não são tão claramente vistas. Por exemplo, quando Estevão estava fazendo a sua defesa perante os seus inimigos judaizantes,
[2] ele mencionou detalhes de relatos bem conhecidos que não são fornecidos em nenhuma parte do A.T, isso fica evidente quando ele menciona o tempo em que o bebê Moisés ficou ainda na casa de sua parentela antes de ser colocado no rio Nilo. Estevão, sob influência do Espírito Santo de Deus disse que “ele foi criado por três meses no lar de [seu] pai.” (Atos 7:20) Isso é uma “datação” que não se encontra em nenhum outro lugar no registro do livro de Êxodo. Já que isso é um detalhe a mais do relato que não se encontra nos primeiros relatos do livro de Êxodo, será que o livro dos Atos dos Apóstolos não é canônico? É obvio que não! Os judeus tinham acesso às informações históricas que não foram incluídas nas Escrituras, e estas também eram fidedignas, sendo assim usadas pelos escritores para dar exatidão história, ou apenas informações complementares, ao que estavam dizendo.

Também em Atos 7:53, diz que a lei foi “transmitida por anjos”. (cf. At. 7:38; Gl. 3:19 Hb 2:2) Isso também não é explicitamente dito no A.T, tanto que na Edição Pastoral-Catequética nos diz neste versículo que esta informação é “segundo a tradição judaica.” Da mesma forma, comentando Judas versículo 9 esta versão diz: “Alusão à uma tradição Judaica – Acessão de Moisés – que os livros santos não mencionam em parte alguma.” Portanto, se aceitamos Atos, Gálatas e Hebreus como canônicos, mesmo eles mencionando fontes históricas segunda a tradição judaica, porque não deveríamos fazer isso com a bela carta inspiradas de Judas?

Os escritores do N.T, às vezes, citavam fontes não-bíblicas apenas pelo fato dessas palavras serem verazes, e não porque elas eram inspiradas. Paulo citou três poetas gregos, Menander (1 Coríntios 15:33), Epimênides e Arato (Atos 17:38). Ele menciona uma outra citação de Epimênides, e ainda por cima o chamar de “profeta” (Gr.: προφητης) em Tito 1:12. Obviamente Paulo não achava que os escritos de Epimênides fossem inspirados; ele era um “profeta” na opinião dos Cretenses, que assim o aceitavam, e Paulo cita essa declaração porque elas destacam uma verdade geral.

Assim como Judas deve ter feito uso de um documento histórico confiável, este escritor do livro de Enoque deve ter também feito uso desta mesma fonte de conhecimento judaico, ou talvez, uma tradição oral judaica conhecida.

Os Judeus eram muito exclusivos no que diz respeito as Escrituras Sagradas. Eram também muito meticulosos no que diz respeito à lei. Com certeza, os Judeus não incluiriam este livro (i.e de Enoque) no cânon da Bíblia. Já que os destinatários da carta de Judas incluíam Judeus cristianizados, aquele traço característico dos Judeus, como exatidão das históricas canônicas, estaria presente ao passo que eles liam essa carta bíblica. Portanto, que escritor iria, numa carta tão breve mencionar este livro tão desprovido de divindade, como o livro de Enoque? Judas não cometeria este erro visto que seus leitores conheciam muito bem o A.T (cf. Judas 1:5) Mesmo que ele mencionasse uma verdade que se encontrasse em um livro apócrifo, isso seria muito improvável, visto que levaria muitos a duvidar de sua autoridade divina. Sua carta perderia seus créditos entre seus irmãos cristãos, por ele mencionar um livro que era rejeitado entre os cristãos do primeiro século, e os judeus em geral.

Visto que Judas escreve contra a apostasia, seria antilógico ele mesmo mencionar um livro apostata. Se tivesse feito isso, teria dado a oportunidade dos “homens ímpios” (vs 4) lhe contestar as palavras,
[3] fazendo assim com que os outros irmãos também duvidassem de suas palavras e desviando-os para os falsos ensinos destes falsos instrutores.

É bem evidente que Judas não estava citando nada deste livro espúrio diretamente, porque o Espírito Santo não induziria um servo de Deus a escrever algo citando um livro plenamente mentiroso, como “fábulas judaicas” (Tito 1:14). Portanto, como é bem aceito hoje, não há dúvidas alguma de que a carta de Judas faz conclusivamente parte das Escrituras Inspiradas pelo Deus da verdade, Yehowah.





Notas:
[1] Cf. Notas Bíblicas de Albert Barnes, Introdução à epístola de Judas.
[2] Cf. Atos dos Apóstolos cap. 7.
[3] Além do mais, se esses homens iníquos são os primitivos cristãos gnósticos, como muitos comentadores acreditam, isso levaria a eles ter livre uso de seus escritos gnósticos para apoiar seus argumentos. Se Judas, irmão de Tiago, se afirma ser inspirado por Deus “usou” dois livros não-canônicos, assim os cristãos gnósticos também poderiam fazer uso de quaisquer livros a seu bel-prazer